À espera do comunicado do Copom

    Por Cristiano Romero

    O Comitê de Política Monetária (Copom) promove hoje mais um aumento da taxa básica de juros (Selic), elevando-a para 9,5% ao ano. O aspecto mais importante do encontro desta quarta-feira será, entretanto, o comunicado. É provável que o Comitê mantenha o tom das últimas reuniões, sinalizando a continuação do ciclo de aperto monetário. Mas há a expectativa, também, de que o BC mude a sinalização, dando indícios de que o ciclo estaria próximo do fim.

    Nas últimas três reuniões, o Copom adotou o mesmo discurso para comunicar suas deliberações – “o Comitê avalia que essa decisão contribuirá para colocar a inflação em declínio e assegurar que essa tendência persista no próximo ano”. Nas três oportunidades, aumentou a Selic em 0,5 ponto percentual.
    Nesse período, o que mudou na comunicação do BC? A rigor, nada. Em todas as manifestações, a diretoria, tendo o presidente Alexandre Tombini à frente, chamou a atenção para o IPCA pressionado e a necessidade de desinflacionar a economia. Um problema adicional surgiu desde o fim de maio – a desvalorização do real frente ao dólar e seus reflexos sobre os preços.

    Na quinta-feira, Tombini, na opinião de alguns analistas, teria “piscado”. Ao participar de seminário em Londres, declarou: “Estamos observando a inflação para definir nosso próximo passo”. Isso seria uma indicação de que o presidente do BC já vê alguma melhora nos números e que, por isso, gostaria de observar o cenário antes de tomar novas decisões.

    O economista de uma importante gestora de recursos fez um levantamento e constatou que, desde que as reuniões do Copom passaram a ser feitas com intervalos de 45 dias, houve 62 encontros. Em nenhum dos 62 comunicados, ele encontrou a frase dita por Tombini em Londres. Em três, achou algo parecido, que resultou em duas mensagens distintas.

    No primeiro comunicado (de março de 2009), o BC reduziu o juro em 150 pontos-base (1,5 ponto percentual) e, na reunião seguinte, em 100 pontos. Nos dois seguintes (de março de 2008 e março de 2013), a mensagem significou manter a Selic estável e iniciar o aperto monetário no encontro seguinte do Comitê.

    A conclusão desse analista é que o discurso de Tombini indica que o Copom de hoje aumentará o juro, mas sinalizará mudança de ritmo em novembro. O presidente do BC teria sinalizado um comunicado “data dependent” (dependente dos dados econômicos). A próxima decisão do atual ciclo de aperto dependerá da evolução da economia até a reunião de novembro e daí por diante.

    Quem esteve com Tombini não percebeu mudança de rumo

    Essa percepção é encorajada por duas razões: a inflação acumulada em 12 meses está em queda desde julho (o IPCA-15 de setembro caiu abaixo de 6% pela primeira vez no ano) e o PIB pode ter registrado crescimento negativo no terceiro trimestre. Hoje, o IBGE divulga o IPCA cheio de setembro, confirmando, segundo expectativas do mercado, recuo abaixo de 6% na variação em 12 meses.

    Quem esteve com Tombini recentemente não acredita que ele tenha mudado de tom nem de estratégia. A comunicação não mudou e o Copom deve não só aumentar a Selic hoje para 9,5%, como sinalizar nova alta de 50 pontos-base em novembro, o que levaria o juro de volta a dois dígitos. O aperto continuaria depois disso, podendo levar a Selic até 11% ao ano.

    No Relatório de Inflação de junho, o BC indicou que, para cada aumento de 100 pontos-base na Selic, a inflação recua 30 pontos-base dentro de oito a nove trimestres. Portanto, para levar o IPCA à meta de 4,5% no fim de 2015, partindo de um cenário de mercado que prevê inflação de 5,4% no terceiro trimestre de 2015, o Copom teria que elevar a Selic em mais 300 pontos-base (para 12,75% ao ano), bem acima dos 9,75% previstos pelo consenso de mercado para o ciclo atual.

    Ninguém acredita nessa possibilidade, principalmente por causa de pressões políticas do Palácio do Planalto. Outros acham que o BC não está sinalizando esse aperto. Tombini, alegam, deixou claro que bem-sucedida será a política que conseguir derrubar a inflação, todo ano e mesmo que lentamente, abaixo do resultado do ano anterior.

    Naquilo que importa, que é a carestia em si, não há nada a comemorar. A inflação de preços livres em 12 meses até agosto chegou a 7,64%, 1,88 ponto percentual acima do resultado do mesmo período em 2012. Alimentos e bebidas subiram 10,45%, face a 8,86% na comparação com os 12 meses acumulados até agosto de 2012. Os preços de serviços avançaram 8,60%, diante de 7,89%.

    A inflação deste ano só não está maior porque o governo tem promovido uma brutal repressão dos preços administrados, o que o obrigará, em algum momento, a promover um verdadeiro tarifaço, típico dos períodos de inflação crônica. Nos 12 meses até agosto, esses preços variaram apenas 1,27%, 2,51 pontos percentuais abaixo do valor apurado em agosto do ano passado. Ao combater a inflação, o BC olha para os preços livres porque os administrados não respondem à política monetária.

    Na gestão Dilma, o IPCA tem ficado sempre acima da meta e só caiu, na medição em 12 meses, uma vez abaixo de 5% (ver gráfico). Quando se considera a média móvel em 12 meses, o índice jamais caiu abaixo de 5%, segundo o Valor Data. E o pior é que, ao contrário do que pretendia Brasília, inflação alta não trouxe mais crescimento.

    Cristiano Romero é editor-executivo e escreve às quartas-feiras

     

    Fonte: Valor Econômico

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