Acaba a lua de mel entre Galípolo e o PT e Lindbergh critica defesa da PEC 65, que amplia autonomia do BC

    A curta trégua entre o presidente do Banco Central, Gabriel Galípolo, e o Partido dos Trabalhadores (PT) chegou ao fim. Segundo revelou a coluna de Roseann Kennedy e Iander Porcella, no Estado de S. Paulo, a aproximação inicial, celebrada por lideranças petistas quando Galípolo assumiu o cargo em janeiro, foi substituída por críticas abertas. O rompimento foi provocado por uma combinação de fatores: a manutenção dos juros em 14,75% ao ano, patamar considerado abusivo pelo PT, a defesa da PEC da Autonomia Financeira do Banco Central e a recente divergência com o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, sobre o aumento do IOF.

    Quando Galípolo assumiu a presidência do BC, havia no PT a expectativa de uma guinada em relação à política conduzida por Roberto Campos Neto. O partido esperava, sobretudo, uma redução mais rápida da taxa de juros — uma das principais bandeiras do governo Lula para estimular o crescimento econômico. No entanto, o novo presidente não rompeu com a linha anterior. A taxa Selic permaneceu elevada, e a autoridade monetária seguiu sinalizando a manutenção da política de Roberto Campos Neto, para desapontamento da base governista.

    O incômodo aumentou após Galípolo defender com firmeza, em reunião com senadores nesta terça-feira, 27 de maio, a tramitação da PEC que amplia a autonomia financeira do Banco Central. A proposta, que retira ainda mais instrumentos de controle do governo sobre a autoridade monetária, contraria a posição histórica do PT.

    Para tentar mitigar os efeitos da tensão, parlamentares petistas articulam mudanças no texto da PEC durante sua tramitação no Senado.

    Outro ponto de atrito foi a postura de Galípolo diante do aumento do IOF anunciado pelo governo. A divergência pública entre o presidente do BC e o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, acentuou o mal-estar dentro da equipe econômica e reforçou a percepção, entre os petistas, de que Galípolo tem atuado de forma desalinhada com os objetivos do governo.

    Inicialmente visto como uma oportunidade de reconstrução do diálogo com o Banco Central após o período turbulento sob Campos Neto, Galípolo passou a ser alvo de desconfiança dentro do PT. Lindbergh, que no fim de 2024 havia apostado em uma gestão mais intervencionista no câmbio e em um discurso que contribuísse para acalmar o mercado e derrubar os juros, agora lamenta a falta de sintonia.

    A lua de mel acabou. A combinação de juros estratosféricos, defesa de maior autonomia do BC e distanciamento das metas do governo Lula transformou a relação com Galípolo em mais um desafio político e econômico para a base aliada no Congresso.

    Fonte: Brasil 247

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