Acerto de contas antes de 2014

    Conjuntura: Governo de Dilma Rousseff precisa conter a gastança para segurar a carestia e a disparada dos juros até a eleição

    Rosana Hessel

    Um arrocho nas contas públicas se tornou urgente ao governo Dilma Rousseff. Para evitar uma disparada dos juros e manter a inflação ao menos administrável, a equipe dela terá de segurar a gastança. Sem espaço para mais manobras fiscais e com a proximidade das eleições de 2014, o Palácio do Planalto corre contra o tempo. De um lado, promove um aperto monetário para, ao menos, segurar os preços até o pleito e, de outro, tenta convencer o mercado de que está controlando as despesas. Os dados do país, no entanto, não convencem. Hoje, a prévia da carestia oficial, o índice de Preços ao Consumidor Amplo —15 (IPCA-15), deve confirmar a persistência inflacionária. A expectativa é de que o indicador, em 12 meses, fique em 5,87%.

    “Não há mais espaço para incentivos fiscais na economia. O que resta é tentar um novo contingenciamento de recursos, como ocorreu no início do Plano Real, explicou o chefe da Divisão Econômica da Confederação Nacional de Comércio (CNC), Carlos Thadeu de Freitas Gomes. Para o economista Felipe Salto, da consultoria Tendências, não há mais tempo para este governo fazer um ajuste. “A gente já perdeu o bonde. O que resta é aumentar juros para segurar a inflação. Uma mudança para valer só vai ocorrer mesmo a partir de 2015”, afirmou.

    O aumento de juros, porém, alimenta dois problemas: trava a já combalida economia do país, que deve crescer cerca de 2,5% nos próximos anos, e deixa a dívida pública maior e mais cara. Segundo especialistas, diante das
    dificuldades fiscais, há chances de o país perder posições em um ranking que lista os países seguros para investimentos. Quanto mais aumenta o endividamento, maiores são as chances de o Brasil ser rebaixado pelas agências internacionais de classificação de risco.

    Missão impossível

    Um ajuste fiscal, ponderou Gomes, é a melhor forma de o governo minimizar os problemas, principalmente se o Federal Reserve (Fed, o BC dos EUA) der fim a estímulos mensais de US$ 85 bilhões. Caso nâo faça o dever de casa, alertou o economista da CNC, o Brasil vai sofrer com uma disparada do dólar e dos juros. O economista-chefe da MB Associados, Sérgio Vale, argumentou que é quase impossível a equipe de Dilma conseguir cortar gastos. No máximo, explicou, vai trabalhar para a carestia não estourar o teto da meta, de 6,5%. “O governo gosta de fazer conta de padaria, daquelas ” que apenas veem o que vai acontecer na inflação do mês”, disse. O mercado começa a colocar na conta o risco eleitoral do próximo ano. Para os investidores, é grande a possibilidade de o Ministério da Fazenda abrir os cofres públicos para facilitar a reeleição presidencial. “O problema é que os riscos para 2014 são enormes. O real continuará desvalorizado frente ao dólar, com o “risco Dilmá àtoda (prova)”, observou Vale. “As bondades deste ano sairão de cena, especialmente o corte do custo de energia. A chance de uma inflação maior em 2014 é elevada. Subir juros em ano eleitoral seria uma ousadia do BC” argumentou.

     

    Fonte: Correio Braziliense

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