Ações do setor bancário atravessam momento positivo

    As ações do setor bancário encontram na recuperação da atividade econômica um importante respaldo para manter o ritmo de alta visto neste ano. Segundo analistas, a melhora da atividade doméstica, com alívio para a situação das famílias brasileiras, combinada com uma esperada maior oferta de crédito no próximo ano representam relevantes catalisadores para esses papéis.

    Apesar da pequena queda registrada ontem, de 0,52%, a ação preferencial (PN) do Itaú Unibanco ainda acumula ganho de 35% no ano, enquanto a PN do Bradesco já sobe 40%.

    Descoladas de seus pares, as units do Santander tiveram um dos melhores desempenhos da bolsa no pregão de ontem, depois que o Credit Suisse emitiu relatório revisando o preço-alvo de todo o setor e elegendo o banco espanhol o preferido no segmento. O papel do banco subiu ontem 3,95%, a R$ 31,05; no ano, avança 10,5%. Na sexta-feira, o BTG Pactual já havia elevado para “neutra” a recomendação para o Santander, com preço-alvo de R$ 30,00.

    A expectativa de que o Santander passe a entregar níveis de rentabilidade maiores, depois de já ter melhores resultados nesse indicador nos últimos trimestres, faz com que os investidores retomem o interesse pelos papéis do banco, a uma altura em que ele se torna “tese de investimento” de grandes casas, afirma o analista João Augusto Salles, da Lopes Filho & Associados.

    “De fato, o Santander tem um ROE [retorno sobre patrimônio] menor ante os pares, mas o mercado não conseguiu capturar uma melhora que o banco obteve nos últimos anos, saindo de um patamar de 11% a 12% para 15% de rentabilidade em 2017. As units estavam atrasadas”, afirma o analista. “Os gigantes privados, como o Itaú, têm rentabilidade girando em torno de 18% a 20%. É fato que o Santander não deve chegar a esse nível, mas caminha pra melhoria de ROE.”

    Apesar da recuperação das units do Santander conseguirem se descolar nesse momento das demais ações do setor, o analista da Lopes Filho pondera que todos os grandes bancos devem colher bons resultados do que é considerado o momento ótimo para eles: maior possibilidade de oferta de crédito diante da queda da taxa de Juros e melhor condição para a tomada de crédito pelas famílias, com orçamento menos estrangulado.

    “No curto prazo, apesar da queda da taxa Selic, o spread bancário não está caindo, porque as carteiras de crédito são pré-fixadas”, explica Salles. “Ou seja, a taxa de 14,25% de um ano atrás vigora nas carteiras dos bancos para 2017 e 2018. E, paralelamente, a queda da Selic não está sendo de todo repassada para a ponta final.”

    O movimento das units do Santander contrastou com o desempenho do próprio Ibovespa no dia, que encerrou em queda de 0,13%, aos 76.892 pontos. No ano, o índice ainda tem avanço acumulado de 27,7%.

    O desempenho negativo do dia voltou a ficar a cargo das ações do setor de varejo, como Lojas Americanas, que teve ontem baixa de 3,23%, a R$ 18,60. Fora do Ibovespa, também tiveram quedas B2W (-4,09%), Magazine Luiza (-4,68%) e a Via Varejo (-4,67%).

    Analistas afirmam que, mais uma vez, os papéis foram contaminados pela perspectiva de expansão da Amazon no Brasil, que poderia representar uma ameaça em termos de concorrência. Mas, na visão de profissionais, esse movimento pode estar exagerado. “A queda desses papéis já está além do racional. Sem dúvida que a Amazon entrando no Brasil é negativo para o setor por causa do aumento de competição, mas em todos os países que ela entrou, a Amazon sempre foi racional”, afirma o gestor de um fundo de investimentos de São Paulo.

    Para um analista de um grande banco, que pediu para não ser identificado, o recuo dos papéis é natural, mas isso não representa uma mudança nas expectativas de crescimento para as varejistas, que continuam amparadas pela tese de recuperação de economia via consumo. “A Amazon levaria muito tempo para crescer organicamente. O que eles podem fazer é crescer no ‘marketplace’, uma operação mais parecida com a do Mercado Livre do que com os demais competidores”, afirma outro especialista.

    Fonte: VALOR ECONÔMICO

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