Acordo sobre poupança deve ser concluído até agosto

    Estão em jogo perdas com planos econômicos das décadas de 80 e 90

    MANOEL VENTURA

    manoel.ventura@bsb.oglobo.com.br

    IONE LUQUES

    ione.costa@oglobo.com.br

    BRASÍLIA E RIO – Associações que representam consumidores e bancos públicos e privados devem fechar, até agosto, um acordo para a compensação das perdas nas cadernetas de Poupança com os planos econômicos dos anos 1980 e 1990. O tema é alvo de milhares de ações na Justiça em todo o país, e os valores a serem pagos podem somar até R$ 11 bilhões.

    O entendimento, que está sendo mediado pela Advocacia-Geral da União (AGU), valerá somente para ações coletivas, mas pode servir de parâmetro para outros processos. Participam das negociações a Febraban (que representa os bancos), o Instituto de Defesa do Consumidor (Idec) e a Federação Brasileira dos Poupadores (Febrapo), que receberam autorização de outras associações para representá-las. A informação foi antecipada ontem pelo jornal ‘Folha de S.Paulo’.

    CAIXA E BB CONCENTRAM CONTAS

    A intenção é levar ao Supremo Tribunal Federal (STF), em agosto, o acordo assinado, para ser homologado pelos ministros da Corte. No STF, tramitam quatro recursos extraordinários com repercussão geral e uma Arguição de Descumprimento de Preceito Fundamental (ADPF). Ou seja, a decisão que o Supremo tomar valerá para todas as ações ajuizadas pelo país que tratam da correção na Poupança.

    O foco das negociações, agora, é definir o valor que será pago pelos bancos aos poupadores. Deve haver um desconto sobre Juros acumulados no período, aos quais os poupadores teriam direito caso tivessem acesso aos recursos integralmente. Além disso, está em discussão a forma de parcelar o pagamento desses recursos.

    Todas as ações que serão beneficiadas pelo acordo e os cortes temporais para a recomposição financeira já foram fechados. Com isso, os valores da negociação vão de R$ 8 bilhões a R$ 11 bilhões. A maior parte das poupanças cobertas pelo acordo estava na Caixa Econômica e no Banco do Brasil.

    Uma solução negociada para o tema é defendida, também, pela área econômica do governo federal. Por isso, o Banco Central participa das negociações. Afinal, o acordo, com descontos nos pagamentos por parte das instituições financeiras, deve proporcionar um alívio ao balanço dos bancos, que poderão colocar mais dinheiro na praça e demonstrar segurança jurídica para investidores. Com o acordo, o estoque de processos sobre o tema deve diminuir.

    A discussão sobre a correção das poupanças voltou a ganhar destaque após a presidente do STF, ministra Cármen Lúcia, confirmar que participará do julgamento. Inicialmente, ela havia declarado sua suspeição, porque seu pai era interessado no desfecho da causa. Além dela, declararam-se suspeitos os ministros Luiz Fux, Luís Roberto Barroso e Edson Fachin.

    Sem quatro ministros aptos a julgar os processos, o tribunal não alcançava o quórum mínimo. As ações, que são relatadas pelos ministros Gilmar Mendes, Dias Toffoli e Ricardo Lewandowski, contestam o direito a diferenças de correção monetária de depósitos em Caderneta de Poupança em razão de alegados expurgos inflacionários decorrentes dos planos Cruzado, Bresser, Verão, Collor 1 e Collor 2.

    IDEC: DIREITO DE TODOS OS POUPADORES

    O Idec divulgou comunicado, ontem, defendendo que todos os poupadores têm direito à correção das perdas durante os planos econômicos dos anos 1980 e 1990. No texto, o instituto alega que a Febraban quer aplicar um grande calote ao insistir que somente poupadores filiados às associações que ajuizaram ações civis públicas contra os bancos devem ser contemplados.

    ‘Se a Febraban tentar, novamente, limitar pagamentos apenas a afiliados (como está a ocorrer no Superior Tribunal de Justiça, no recurso especial 1.438.263/SP, de relatoria do ministro Raul Araújo), o Idec se manterá em intensa luta pelos consumidores’, diz a nota do instituto.

     

    O QUE MUDOU 

    PLANO BRESSER: Em junho de 1987, o plano previu a substituição das Obrigações do Tesouro Nacional (OTN), de 26,06%, pela Letra do Banco Central (LBC), de 18,02%

    PLANO VERÃO: Determinou, em janeiro de 1989, a substituição do Índice de Preços ao Consumidor (IPC) pelas Letras Financeiras do Tesouro (LFT), com perda de 20,36%. Válida para cadernetas com aniversário de 1º a 15 de fevereiro de 1989

    PLANO COLLOR I: Em março de 1990, o plano previu a conversão do cruzado novo (NCz$) para cruzeiro (Cr$) e determinou o bloqueio das poupanças com valores superiores a NCz$ 50 mil

    PLANO COLLOR II: Em janeiro de 1991, o plano substituiu o Bônus do Tesouro Nacional Fiscal (BTNF) pela Taxa Referencial Diária (TRD), com redução de 14,11%

    Colaborou Marina Brandão

    Fonte: O Globo

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