Adesão de bancários à greve dobra em 2015

    A greve dos bancários começou ontem com a paralisação do funcionamento de agências e de centros administrativos dos grandes bancos em 20 Estados e no Distrito Federal. Só na cidade de São Paulo e região, 38 mil bancários aderiram à paralisação neste ano, ante 16 mil na greve do ano anterior, segundo informações do Sindicato dos Bancários de São Paulo, Osasco e Região. 

    A paralisação das atividades das agências bancárias ocorre em um cenário em que os postos tradicionais têm uma importância cada vez menor no dia a dia das operações financeiras. Segundo dados do Banco Central (BC), as agências tradicionais representavam 23% das transações bancárias em 2008, caindo para 17% em 2014, dado mais recente disponível. O internet banking saiu de 29% para 39% no período. Juntas, as dez maiores instituições financeiras do país contam com 22.065 agências. 

    A estratégia do sindicato dos bancários tem visado reforçar as paralisações em centros administrativos dos bancos – que englobam um número maior de atividades, incluindo suporte tecnológico – e nas agências de maior visibilidade, afirma Juvandia Moreira, presidente do Sindicato dos Bancários de São Paulo. “A proposta feita pelos bancos foi muito ruim, o que ajudou a aumentar as adesões”, disse. 

    Ainda que os canais digitais tenham ganhado importância, os números do BC mostram que as agências ainda são o principal canal bancário para transações de tomada de crédito, somando 458,9 milhões de operações desse tipo no ano passado. Nos ATMs (caixas eletrônicos) e no internet banking, as transações de tomada de crédito somaram 126 milhões e 141,1 milhões, respectivamente. 

    A expectativa de bancos e bancários é que as negociações deste ano sejam especialmente árduas. Vale notar a diferença entre a proposta da Federação Nacional dos Bancos (Fenaban), de reajuste de 5,5%, e a reivindicação da Confederação Nacional dos Trabalhadores do Ramo Financeiro (Contraf), filiada à CUT, que briga por um reajuste de 16% – o que representaria aumento real de 5,7%. A próxima assembleia sobre o tema está marcada para terça-feira.

    O reajuste real é a grande polêmica da discussão – assim como qual será a taxa de inflação usada nesse cálculo, segundo apurou o Valor. Os bancários querem aumento real sobre o pico da inflação neste ano. Já as instituições financeiras querem conceder o reajuste considerando não o pico, mas sim a expectativa futura de inflação, que é menor. O argumento dos bancos é que a perda em relação ao pico inflacionário seria compensada pelo abono salarial que está sendo proposto.

    O dissídio dos bancários é um componente importante de custos para os bancos, em especial nos de menor porte. Nas instituições menores, que não têm a mesma capacidade das grandes em repassar aumentos de custos via tarifas, por exemplo, o dissídio vem justamente em um momento de deterioração da qualidade do crédito, que trouxe mais gastos com provisão.

     

    Fonte: Valor Econômico

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