Adversários pedem a saída da presidência

    MARCELLA FERNANDES

    Em sessão esvaziada, líderes utilizaram a tribuna para pedir a renúncia de Cunha

    Diante da iminência de o presidente da Câmara dos Deputados, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), se tornar réu em inquérito no âmbito da Operação Lava-Jato, parlamentares romperam o silêncio das últimas semanas e voltaram a fazer um enfrentamento direto. Líderes do PSDB, PPS, PT, PSol e Rede pediram o afastamento imediato do deputado. Durante a sessão plenária logo após o fim da discussão no Supremo Tribunal Federal (STF), parlamentares se revezaram na tribuna pela saída de Cunha.

    O primeiro a cobrar o afastamento foi o deputado Glauber Braga (PSol-RJ). “Não existe mais qualquer possibilidade de o senhor permanecer à frente da Presidência”, disse. Em seguida, seu correligionário, deputado Chico Alencar (PSol-RJ), cobrou uma postura mais firme dos colegas. “É preciso que a Câmara dos Deputados observe que isso nos diz respeito, que isso nos leva ao patamar mais baixo da representação popular, se nós continuarmos nesse ambiente de corporativismo, de omissão, de silêncio cúmplice”, afirmou.

    Minutos depois, o líder do PSDB, Antonio Imbassahy (BA), cobrou a renúncia de Cunha. “A situação chegou ao limite. Não resta outra alternativa senão o afastamento do presidente Eduardo Cunha. Isso em benefício da democracia, em benefício da recuperação da nossa economia, dessa tragédia do desemprego que o país está vivenciando”, afirmou. Em nome da bancada do PT, o deputado Henrique Fontana (RS) reforçou o pedido. “A arrogância tem limite. A arrogância não vencerá sempre. E Eduardo Cunha vai levantar dessa cadeira”, disse.

    Durante as críticas, Cunha permaneceu impassível e continuou a conduzir a sessão. “É muito constrangedor ter que vir à tribuna dizer isso na frente do presidente da Câmara, que vira as costas, que não enfrenta olhando no olho como deveria”, criticou o líder do PPS, Rubens Bueno. Antes de entrar no plenário, o peemedebista voltou a dizer que se tornar réu não o torna culpado e que mesmo que a denúncia seja aceita não vê motivo para deixar o cargo.

    Sobre as acusações no âmbito da Lava-Jato, Cunha diz que provará sua inocência e destacou o fato de o relator do caso no Supremo, ministro Teori Zavascki, ter acolhido apenas parte da denúncia do procurador-geral da República, Rodrigo Janot. “É um material farto probatório que nós temos para desmascarar se porventura tiver dado curso esse tipo de situação (STF aceitar a denúncia). Então, estou absolutamente tranquilo porque estou com a verdade. Estou com a inocência e a verdade”, disse.

    Relator do caso Delcídio

    O vice-líder do governo, senador Telmário Mota (PDT-RR), foi sorteado e escolhido ontem o relator do processo contra o senador Delcídio do Amaral no Conselho de Ética do Senado. A escolha foi feita depois de Ataídes de Oliveira (PSDB-TO) ser impugnado a pedido da defesa. Mota afirmou que apresentará, na próxima quarta-feira, o parecer. Delcídio responde no conselho por quebra de decoro parlamentar, o que pode levar à cassação do mandato. O senador foi solto há duas semanas e apresentou uma licença médica de 15 dias. Ele foi preso acusado de tentar interferir nas investigações da Operação Lava-Jato.

     

    Fonte: Correio Braziliense

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