Alimento em queda atípica segurou IPCA, dizem analistas

    Atípica para o fim do ano, a queda dos alimentos persistiu em novembro e desacelerou a inflação, mesmo com as maiores tarifas de energia elétrica, avaliam economistas. Segundo a estimativa média de 27 Instituições Financeiras e consultorias ouvidas pelo Valor Data, o Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) recuou de 0,42% em outubro para 0,35% no mês passado.

    As projeções para o indicador oficial de inflação, a ser divulgado amanhã pelo IBGE, vão de aumento de 0,31% até 0,47%. Se confirmadas as expectativas, o IPCA acumulado em 12 meses terá subido novamente, para 2,88%, ante 2,7% até outubro. Ainda assim, são consideradas grandes as chances de a inflação encerrar 2017 abaixo de 3%. Neste caso, o Banco Central terá de enviar uma carta ao Ministério da Fazenda para explicar por que o IPCA subiu menos do que o piso do regime de metas.

    Os alimentos surpreenderam com retração mais forte do que o previsto no IPCA-15 de novembro, movimento que tende a ser mantido no fechamento do mês, avalia Márcio Milan, da Tendências Consultoria. Em seus cálculos, o grupo alimentação e bebidas caiu 0,40%, deflação mais forte que a registrada na medição anterior, de 0,05%.

    “Os preços agrícolas tiveram desaceleração adicional há dois meses e agora isso está sendo repassado para o varejo”, afirma Milan. Com trigo, milho e soja em baixa, a parte de farinhas e panificados e também as carnes devem mostrar recuo maior em novembro. Além disso, não há nenhuma pressão significativa dos itens in natura, porque o clima está favorável às colheitas.

    O quadro benigno para a inflação de alimentos coloca viés de baixa na estimativa para o IPCA de dezembro, diz Milan, e, consequentemente, na projeção para 2017. A Tendências trabalha com alta de 0,44% para o índice neste mês, o que o levaria a terminar o ano com alta de 3%. “Trabalhamos com estabilidade da parte de alimentação em dezembro, mas é possível que ocorra outra deflação“, disse.

    Segundo a equipe econômica do UBS, a inflação de novembro deve ter mantido o mesmo padrão observado ao longo do ano, com os alimentos em terreno negativo, alguma pressão de preços monitorados, especialmente das tarifas de eletricidade, e núcleos de inflação controlados. Nas estimativas do banco suíço, o IPCA ficou em 0,33% no mês passado, enquanto o índice em 12 meses aumentou para 2,9%.

    Devido à mudança na bandeira tarifária das contas de luz – que passou do segundo patamar da cor vermelha em novembro para o primeiro em dezembro – a inflação deste mês deve ser menor, observam os economistas do UBS. Por isso, o banco considera rever para baixo sua previsão atual para a alta do IPCA em 2017, atualmente em 3,1%.

    “A boa surpresa do IPCA-15 jogou os números de novembro para menos do que se imaginava e provavelmente dezembro também deverá ser baixo, com a virada de energia e com os alimentos não dando sinais de preocupação”, comenta Sergio Vale, economista-chefe da MB Associados. Vale estima a alta do IPCAdo mês passado em 0,40%.

    Jankiel Santos e Flávio Serrano, do Haitong, destacam que, se confirmada a projeção de avanço de 0,36% para o IPCA do mês anterior, a inflação acumulada em 12 meses terá aumentado para 2,89%, ainda abaixo do piso do sistema de metas, que é de 3%. Contraria o argumento de que a inflação mais comportada é pontual, de acordo com os dois economistas, a variação dos núcleos de inflação, que excluem ou reduzem o impacto de itens mais voláteis sobre o IPCA.

    Santos e Serrano estimam que a média mensal dos três núcleos de inflação calculados pelo Banco Centralsubiu 0,27% em novembro, o que corresponderia a uma variação anualizada de 3,6%. A taxa, ainda baixa, reforça a avaliação de que não há pressões inflacionárias na economia brasileira, afirmam os economistas do banco chinês.

    Fonte: VALOR ECONÔMICO

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