Alta da Selic acima de 15% anularia crescimento em 2016, aponta estudo

    Uma alta de juros suficiente para levar a inflação ao centro da meta em 2016 poderia custar muito caro à atividade econômica. Segundo estudo da MCM Consultores, que traça projeções a partir dos modelos de pequeno porte do Banco Central, a economia teria crescimento nulo no próximo ano caso a taxa Selic encerrasse 2015 acima de 15% ao ano – nível necessário para que o Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) chegue a 4,5% ao fim de 2016. Atualmente, o consenso de mercado prevê Selic de 14,5% no fim deste ano e expansão de 0,5% da economia no ano que vem. 

    A única mudança que a consultoria fez nas equações usadas desde 2013 pelo BC para definir os cenários de mercado e de referência é a hipótese adotada para a alta dos itens administrados em 2015. No último Relatório Trimestral de Inflação, a autoridade monetária previu aumento de 13,7% para esse conjunto de preços para este ano, projeção que, na avaliação de Leandro Padulla, economista da MCM, já está defasada e deve ser revista para cima na próxima edição do relatório. 

    Por isso a MCM usou nas estimativas a previsão mediana do mercado para a inflação desse segmento, que era de 14,9% para este ano no boletim Focus da semana passada. Num primeiro cenário, que supõe que o aperto monetário necessário seja feito de uma vez só, a Selic teria de subir de imediato a 15,25% para que a projeção do BC para o IPCA em 2016, hoje em 4,8%, ceda a 4,5%. 

    Como é considerada baixa a probabilidade de que autoridade monetária aplique um choque de juros na economia em um momento de recessão, a consultoria estima em uma segunda hipótese que, no ritmo de aumento atual, de 0,5 em 0,5 ponto percentual, a taxa básica de juros teria de alcançar 15,75% ao ano no fim de 2015. Nesse cenário, o IPCA aumentaria 4,6% em 2016. Nos dois exercícios, existe espaço para o início de um ciclo de redução dos juros, principalmente a partir do segundo semestre do ano que vem, dado que a defasagem dos efeitos da política monetária implicaria poucos impactos sobre o PIB do ano. 

    Uma vez calculado o patamar de juros necessário para a convergência da inflação, a MCM tentou estimar os efeitos do aperto relevante sobre a economia. Caso a Selic fosse elevada a taxas acima de 15% ao ano, afirma Padulla, a projeção da consultoria para o avanço do PIB em 2016 sairia de 0,5% para zero. Grosso modo, diz o economista, cada um ponto percentual a mais de Selic “retira” 0,1 ponto do PIB num prazo de cinco trimestres após a alta dos juros, com impactos maiores sobre a economia no fim desse período. 

    “Tentar fazer um esforço para a inflação convergir à meta em 2016 pode ter um efeito contracionista forte sobre a atividade, sendo que as projeções mais à frente já mostram o IPCA na meta. Alargar o período para a convergência seria mais razoável”, avalia o economista. Segundo o boletim Focus, do Banco Central, o consenso de mercado para a alta do indicador oficial de inflação em 2016 segue em 5,5%, mas, para 2017, caiu de 4,75% a 4,70% entre a semana passada e a atual. O grupo de cinco instituições que mais acerta projeções no médio prazo já vê o IPCA no centro da meta de 2017 até 2019. 

    Luis Otavio de Souza Leal, economista-chefe do banco ABC Brasil, pondera que, sem mudar as previsões do BC para os preços administrados, os mesmos modelos usados pelo BC apontam que a inflação chegará ao centro da meta em 2016 com a Selic em 14,25% ao fim de 2015. O Banco Central pode até rever suas estimativas para o avanço dos preços monitorados neste ano, afirma Leal, mas isso não significa que as projeções para a inflação do ano que vem vão mudar muito. 

    Isso porque, segundo estudo contido no último relatório de inflação do BC, a inércia inflacionária tende a ser mais baixa quando a inflação sobe puxada pelos preços administrados. “A revisão nas estimativas para o PIB pode ter impacto maior nas projeções de inflação do BC do que os preços administrados”, comenta Leal, uma vez que a autoridade monetária prevê retração de 1,1% para a atividade neste ano, menor que a queda de 1,49% projetada pelo mercado. 

    No cenário da MCM, que conta com alta da Selic até 14,5% neste ano, assim como a mediana do mercado, o IPCA terminará 2016 com aumento de 5,4%. “Acho que a hora de parar a subida dos juros não está 100% vinculada aos modelos do BC cravarem 4,5% para o IPCA no ano que vem. O BC acompanha uma gama maior de dados e, em algum momento, deve haver uma relativização no relatório de inflação”, diz Padulla, com a autoridade monetária afirmando, por exemplo, que o balanço de riscos para a inflação do próximo ano está mais favorável. 

    José Júlio Senna, do Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getulio Vargas (Ibre-FGV), diz no último Boletim Macro da entidade que, apesar do “enorme custo social” da estratégia atual do BC, um eventual alívio no ciclo de aumento de juros, com manutenção da Selic no patamar atual ou redução na dose de aperto, custaria ainda mais caro. 

    “É preciso aproveitar o embalo da mudança de rumo da política econômica para trazer a inflação para a meta, em 2016”, afirma Senna, para quem a política monetária “bastante contracionista” de hoje é reflexo do relaxamento agressivo colocado em curso em agosto de 2011, que levou a Selic a 1,6%, em termos reais, em janeiro de 2013.

     

    Fonte: Valor Econômico

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