Alta do dólar corrói o lucro de multinacionais dos EUA

    Rápida valorização da moeda está surpreendendo as empresas

    A alta do dólar está corroendo os lucros das grandes multinacionais americanas, levando analistas de Wall Street a promover os mais profundos cortes nas previsões de lucros desde a crise financeira, o que impulsiona a atratividade de empresas menores e focadas mais no mercado interno dos EUA. 

    O dólar subiu 10,5% em 2015 ante o euro, e a alta é de 26,4% ante o mesmo período do ano passado. 

    O Índice do dólar do WSJ, que mede a variação do dólar em relação a uma cesta de moedas, subiu 4,5% este ano. A alta do dólar ante o euro tem sido motivada pelo agressivo afrouxamento monetário implementado pelo Banco CENTRAL Europeu (BCE) ao mesmo tempo em que o Fed (o BC americano) se prepara para elevar os juros.

    Analistas, citando o fortalecimento do dólar como fator principal, estão prevendo que os lucros das empresas do índice S&P 500 no primeiro trimestre terão seu maior declínio anual desde o terceiro trimestre de 2009. 

    Como resultado, os investidores estão mantendo uma propensão às ações de empresas americanas que possuem menos negócios no exterior, mais focadas no mercado doméstico, e de companhias de fora dos Estados Unidos que se beneficiam do enfraquecimento das moedas de seus países de origem à media que o dólar se fortalece, especialmente fabricantes europeus. 

    “O que é notável é a velocidade com que o dólar subiu, e essa velocidade traz algumas complicações”, diz Anwiti Bahuguna, gestor sênior de portfólio da equipe de alocação de ativos globais da Columbia Management, que administra US$ 68 bilhões. 

    “O dólar está subindo a uma velocidade muito, muito mais rápida do que já se viu na história.” Vários investidores dizem que a alta do dólar está por trás do desempenho relativamente forte das ações de pequenas empresas, que são frequentemente mais focadas no mercado interno, em relação às ações de grandes companhias. O Índice Russel 2000 de ações de pequenas empresas subiu cerca de 5% este ano e 10% nos últimos seis meses. Na comparação, o Índice S&P 500 subiu cerca de 2,5% em 2015 e 5% nos últimos seis meses. 

    O salto do dólar ocorre quando o BCE inicia uma nova e agressiva política de afrouxamento monetário. 

    Investidores esperam que o Fed responda à melhora da economia americana com um aumento dos juros ainda neste ano, embora muitos analistas, depois do comunicado de política monetária do Fed divulgado na semana passada, esperarem aumentos pequenos e graduais. 

    As complicações ligadas ao fortalecimento do dólar têm sido visíveis na divulgação dos resultados das empresas. 

    Na sexta-feira, a Tiffany informou que as vendas caíram 1% no trimestre fiscal encerrado em janeiro, mas teriam crescido 3% se não fossem as mudanças cambiais. 

    Ela espera “um crescimento mínimo” nos lucros este ano, em parte devido ao dólar valorizado. A Oracle informou na terça-feira que a receita líquida teria crescido 7% no trimestre até fevereiro não fosse pelo fortalecimento do dólar. Em vez disso, a receita caiu 3%. 

    “Esse é o impacto cambial mais significativo que já tivemos num ano fiscal”, disse Jon Moeller, diretor financeiro da Procter & Gamble, a investidores em janeiro. A fabricante de produtos para o setor de consumo espera que os efeitos cambiais reduzam os lucros depois dos impostos em US$ 1,4 bilhão, ou 12%, no ano fiscal corrente, que termina em junho. 

    Líderes empresariais foram pegos de surpresa pela rapidez com que o dólar se valorizou, diz Brian Lazorishak, gerente de portfólio do Chase Growth Fund, que administra US$ 103 milhões. 

    “Se você tem uma elevação gradual, é mais fácil para a direção se adaptar e se preparar e para fazer um hedge se eles quiserem.” Lazorishak reduziu sua posição em ações da Microsoft, já que metade da receita da empresa vem de fora dos EUA. Ele comprou ações da Southwest Airlines, que gera menos de 2% de suas vendas no exterior, e de outras empresas que são mais concentradas nos EUA. 

    Kark Schamotta, diretor de pesquisa cambial da Cambridge Global Payments, empresa de Toronto que ajuda empresas a empregar estratégias no mercado cambial para proteger as receitas internacionais de oscilações no câmbio, está dizendo a seus clientes para que se preparem para a paridade com a moeda europeia, ou seja, € 1 a US$ 1. Um euro comprava ontem US$ 1,0965. 

    “Muitas grandes companhias […] estão agora tentando recuperar as perdas relacionadas ao câmbio”, afirmou ele. 

    Diante desse cenário, os analistas estão reduzindo as previsões de lucro. Em setembro, analistas esperavam que o lucro das empresas que compõem o índice de ações S&P 500 crescesse 9,5% no primeiro trimestre, comparado ao ano anterior, e 11,6% em todo o ano de 2015, segundo o FactSet. 

    Hoje, os analistas esperam que o lucro do primeiro trimestre caia 4,9%. Para o ano de 2015, a expectativa é que os lucros subam apenas 2,1%. 

    A última vez que os analistas reduziram a previsão de lucro anual nesta escala foi nos seis meses anteriores a março de 2009, segundo a FactSet, numa época em que as ações caíam para os níveis mínimos atingidos durante a crise financeira. E se o crescimento dos lucros no ano ficar em 2,1%, terá sido a menor alta desde que eles caíram 7,9% em 2009. 

    O Goldman Sachs Group prevê que o euro caia outros 12% ante o dólar nos próximos 12 meses. 

    “Será um enorme obstáculo para as empresas que vendem internacionalmente”, afirma David Kostin, estrategista-chefe de ações americanas do Goldman Sachs.

     

    Fonte: Valor Econômico

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