Análise: Ilan dá mais ênfase à queda da taxa de juro estrutural

    O presidente do Banco CentralIlan Goldfajn, repetiu o centro da mensagem de política monetária em discurso feito ontem a investidores em Nova York, mas ele colocou um pouco mais de ênfase na queda do juro estrutural provocada pela aprovação da Taxa de Longo Prazo (TLP).

    Repetindo a ata do Comitê de Política Monetária (Copom) divulgada na semana passada, Ilan renovou a mensagem de desaceleração moderada nos cortes de Juros (numa indicação de que a queda será de 0,75 ponto percentual na reunião do colegiado de outubro) e de um encerramento gradual do ciclo de distensão.

    O discurso é basicamente uma tradução de pronunciamento feito por Ilan na sexta-feira em evento em São Paulo. Uma sutil diferença foi no tempo verbal usado para se referir ao efeito da aprovação da TLP sobre os Juros estruturais, também conhecidos como Juros neutros.

    Na sexta, Ilan havia dito que a TLP e outras reformas “contribuem” para reduzir os Juros estruturais, repetindo a linguagem da ata. Na ata anterior, da reunião do Copom de julho, o BC dizia que as reformas tendiam a reduzir os Juros estruturais.

    Ontem, o presidente do BC usou o tempo verbal passado, afirmando que recentes medidas de crédito já contribuíram para a queda dos Juros estruturais.

    A questão é se esse será um padrão daqui por diante – se, por exemplo, o BC vai assumir uma nova queda dos Juros estruturais automaticamente na hipótese de aprovação da Reforma da Previdência. A TLP é a taxa que vai substituir gradualmente, a partir de janeiro, a Taxa de Juros de Longo Prazo (TJLP) nos empréstimos do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES).

    A nova taxa ajuda a baixar os Juros neutros porque contém os subsídios implícitos a financiamentos do banco estatal, reduzido riscos fiscais, e porque anda em mais sintonia com os Juros básicos, aumentando a potência da política monetária.

    O BC tem enfatizado que não manda mensagens novas de política monetária por meio de palavras-chave e de pequenas mudanças no texto. Mas a mudança de tempo verbal não deixa de mostrar uma evolução na avaliação do BC sobre o assunto.

    Essa mudança já havia sido indicada em entrevista de Ilan ao Valor na semana passada, mas ganha um “upgrade” na linguagem do BC ao ser incorporada em um discurso oficial.

    A avaliação do BC sobre a evolução dos Juros neutros é importante porque vai definir se os Juros vão ficar baixos depois de encerrado o ciclo de afrouxamento.

    Mais uma vez, Ilan disse que, levando em conta a queda da Selic e a inflação previstas pelos analistas econômicos consultados na pesquisa Focus para os próximos 12 meses, os Juros reais chegaram perto de 2,9%. Taxas de Juros reais em torno de 3%, destacou ele, já estimulam a economia e estão abaixo valor neutro.

    Em geral, os Juros costumam ficar abaixo da taxa neutra apenas quando é preciso estimular a economia para preencher fatores de produção ociosos, sobretudo um alto desemprego, e para levar uma inflação muito baixa (hoje, em 2,5%) para a meta (fixada em 4,5% para 2018).

    Quando a inflação estiver encaminhada para a meta e os níveis de ociosidade da economia se reduzirem, a Selic e a taxa neutra devem se igualar. No discurso, Ilan repetiu que as hipóteses para tanto são a meta da taxa Selic subir até os Juros estruturais, os Juros estruturais caírem aos níveis da meta da Selic ou uma combinação de ambos.

    Fonte: VALOR ECONÔMICO

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