Autor: Raymundo Costa
O Palácio do Planalto está por trás da fritura que líderes governistas fazem do ministro Henrique Meirelles(Fazenda) no Congresso. Não é por acaso que o discurso é o mesmo de um lado e do outro da rua. No entanto, nem o presidente Michel Temer cogita demitir o ministro, nem Meirelles pensa em pedir demissão. Ao menos por enquanto, não interessa a nenhum dos dois. Mas há tensão no relacionamento, pois se entende no Planalto que falta jogo de equipe a Meirelles e que o ministro muitas vezes coloca na frente seus projetos políticos pessoais.
O tempo fechou na discussão sobre a revisão da meta fiscal. Há pelo menos três semanas Temer vem falando que Meirelles abriria, conduziria e fecharia a discussão sobre a revisão da meta. O presidente reclama que nunca falou em Déficit acima de R$ 159 bilhões e está pessoalmente convencido que a versão contrária foi difundida pela Fazenda. Segundo fontes próximas a Temer, seria uma prática antiga de Meirelles: acusar a área política de pressionar por mais gastos para, no fim, aparecer como o salvador da pátria.
Nesse aspecto, não apenas Temer, mas também os ministros saíram em defesa dos políticos. Na realidade, os chamados “ministros políticos” do Planalto – Eliseu Padilha (Casa Civil), Moreira Franco (Secretaria-Geral) e Antonio Imbassahy (Secretaria de Governo) – estão alinhados à agenda econômica e têm clareza quanto à dependência que o atual governo tem da aprovação dos “agentes econômicos”.
No panorama visto desde o Planalto, a resistência às medidas de austeridade são maiores entre lideres e aliados do governo no Congresso, sobretudo Romero Jucá (PMDB-RR), ex-ministro do Planejamento, o presidente do Senado, Eunício Oliveira (PMDB-CE) e o líder André Moura (PSC-BA). O presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ) e o deputado Aguinaldo Ribeiro (PP-PB) são mais ciosos da crise fiscal. Mas também não detêm uma liderança capaz de arrebatar os deputados.
O Congresso, por seu turno, ainda vive a ressaca pós-votação da licença para o Supremo Tribunal Federal (STF) processar Temer, a pedido do Ministério Público Federal. A votação da “degola” exauriu o governo e provocou a rearrumação do “Centrão”, que está mais exigente. Pelo andar da carruagem, o Congresso responderá cada vez menos às orientações do Palácio do Planalto, especialmente à medida que se aproximarem as eleições gerais de 2018.
Até outubro do próximo ano dificilmente haverá mais reformas estruturantes ou aumento de impostos para fechar a conta. Talvez o governo possa investir para cima do funcionalismo, como última alternativa, o que também é visto com ceticismo: o Planalto anunciaria um monte de maldades e não aprovaria nada. O presidente pode ficar emburrado com Meirelles, mas é fato que, no momento, precisa mais da equipe econômica do que esta do governo. Fica a dúvida: até onde Meirelles está disposto a ir?
Se foi para o governo pensando em disputar a Presidência da República, o projeto político original de Meirelles (ser alçado candidato em razão do sucesso absoluto da política econômica) desmoronou. A esta altura, o ministro também sabe que o governo depende muito mais dele do que ele do governo. Resta saber se está disposto a ficar amargando não só derrotas no Congresso Nacional, como também o mau humor do Planalto.
Fonte: VALOR ECONÔMICO