Analistas já projetam meta estourada

    Arícia Martins De São Paulo

    Os analistas com um índice maior de acerto de projeções estão mais pessimistas com a inflação do que o consenso de mercado. Enquanto a mediana de estimativas para a alta do Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) em 2014 subiu de 6,11% para 6,28% na semana passada, a expectativa para o mesmo indicador do grupo “Top 5” de médio prazo avançou de 5,99% para 6,57%, cenário que contempla um estouro do teto da meta inflacionária, de 6,5% para 2014. Os dados são do boletim Focus, divulgado ontem pelo Banco CENTRAL.

    Entre as instituições Top 5 de curto prazo, a mediana para o IPCA deste ano também aumentou, de 6,39% para 6,42%. Tanto o grupo de médio como de curto prazo trabalha com inflação de 6% para 2015, acima dos 5,8% da mediana geral.

    Para analistas consultados pelo Valor, o atual choque de alimentos ainda está tendo impacto sobre as projeções para a evolução dos preços neste ano. Já para o ano que vem, estariam pesando mais na conta os repasses previstos nas contas de energia elétrica.

    Em relatório, o economista Gustavo Arruda, do BNP Paribas, observa que o Banco francês espera inflação de 6,5% para 2014 desde meados de 2012, projeção que continua válida. Na visão de Arruda, ainda deve haver mais revisões para cima nas expectativas de mercado, bem como nas da própria autoridade monetária, que divulga nesta quinta-feira seu Relatório Trimestral de Inflação referente ao primeiro trimestre do ano.

    “O BC vai precisar revisar para cima suas projeções de inflação para incorporar as recentes surpresas para cima, e vai ser difícil para as autoridades defenderem um fim próximo para o atual ciclo de aperto monetário”, afirma o economista do Banco francês. “A inflação está se provando um problema maior do que as pessoas pensavam, exigindo mais ação da política monetária“, diz Arruda.

    De acordo com o Focus, a mediana de apostas para a taxa Selic subiu de 11% para 11,25% ao fim deste ano. Os analistas veem ainda a taxa básica de juro em 12% ao fim de 2015, projeção que ficou inalterada em relação à da semana anterior. Atualmente, o juro básico está em 10,75%.

    Como há muitas incertezas que podem afetar a trajetória dos preços neste ano, o Barclays prefere manter em 6% sua previsão para a aceleração do IPCA em 2014, mas o economista Bruno Rovai afirma que existem riscos de que a inflação supere este patamar. Além do aumento dos alimentos em função da seca, que está se transmitindo com rapidez dos índices ao atacado para o consumidor, Rovai menciona que ainda há dúvidas sobre os preços administrados.

    “Fomos surpreendidos com reajustes de transporte público. Como as manifestações do ano passado foram fortes, imaginávamos estes preços não aumentariam em ano eleitoral”, diz o economista, que projeta alta de 4,5% para os itens monitorados em 2014. Após o reajuste de 9% das tarifas de ônibus no Rio, em fevereiro, Rovai lembra que um aumento já foi acertado em Salvador e há possibilidade de outro em Porto Alegre.

    Maurício Nakahodo, do bank of Tokyo-Mitsubishi UFJ Brasil, também segue projetando avanço de 6% para o IPCA deste ano, embora afirme que a inflação de alimentos é uma fonte de preocupação no curto prazo. “Mas entendemos que esse choque é temporário é deve voltar com a normalização das condições climáticas. A tendência é que seja um impacto sazonal”, diz Nakahodo, que não deve elevar sua expectativa atual devido à trajetória da parte de alimentação.

    Nakahodo observa, porém, que o setor energético representa um risco à suas estimativas, mais para 2015 do que para 2014. No ano que vem, o bank Of Tokyo vê inflação menor, de 5,5%, previsão que, segundo ele, deve ser alterada. “Te – mos incertezas em relação ao montante do repasse das distribuidoras às tarifas e, também, sobre o quão gradual será esse repasse. A tendência é que a inflação seja maior do que a que esperamos hoje no próximo ano”, disse.

    Em seus cálculos, uma alta de 18% do item energia elétrica no IPCA adicionaria 0,5 ponto percentual ao indicador. Por ora, o Banco ainda não tem projeção aberta para estes preços em 2015.

     

    Fonte: Valor Econômico

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