Apagão fiscal para até cirurgia de coração em SP

    População sofre com cortes; para economistas, ajuste poderia ser menor

    Cristiane Barbieri, O Estado de S.Paulo

    07 Agosto 2017 | 05h00

    Os retratos descritos nesta e na próxima página foram causados pelos cortes orçamentários do governo federal. Neles, percebe-se como cidadãos e empresas estão sendo afetados em seu dia a dia, pela redução dos serviços prestados pelo poder público. Há casos de vários tipos, como a equipe de cateterismo cardíaco da Escola Paulista de Medicina, que atendeu 70% menos pacientes este ano.

    Enquanto a população é penalizada, os economistas travam discussões sobre como tornar a difícil travessia para o equilíbrio fiscal mais curta e menos sofrida. Para alguns, é necessário esquecer a meta fiscal – um déficit primário de R$ 139 bilhões em 2017  e aumentar gastos até o limite do teto, esperando que a arrumação nas contas públicas aconteça com reformas e aumento da arrecadação, no longo prazo. Para outros, o não cumprimento e a ampliação do déficit, abalaria a confiança nos esforços para dar solidez econômica ao País. Preveem que os juros iriam às alturas, aumentando ainda mais o buraco. “Essa gestão está vendo chifre em cabeça de cavalo”, diz o economista Raul Velloso. “Se já há um teto de gastos, para que tentar cumprir um superávit que não é possível garantir, porque não se pode assegurar a arrecadação?”

    Na opinião de Velloso, o governo deveria brigar para demonstrar que não deixará o gasto crescer, pelo risco de produzir um ajuste além do necessário e com maior sofrimento à população, já penalizada com o alto desemprego e a retração da economia. “Aumentar os impostos para garantir a meta fiscal é empurrar a cabeça de quem está se afogando para dentro da água”, compara.

    Não é uma decisão simples. O nível de endividamento do governo já está acima da capacidade de financiamento com poupança nacional, diz Otto Nogami, professor de economia do Insper. Isso aumenta a dependência de investidores estrangeiros e complica as perspectivas em caso de descumprimento da meta. “O Brasil começará a ser visto como um ambiente econômico arriscado e esse investidor passará a exigir mais rentabilidade”, diz. “O Banco Central será obrigado a aumentar os juros, com reflexos no endividamento e na retração da economia.” Exatamente o que garantiria o cumprimento da meta.

    Fonte: O Estado de S. Paulo

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