Após tombo, economia dos EUA dá sinais de aceleração

    Retomada Analistas preveem alta do PIB de até 3% nos próximos trimestres

    Depois da retração inesperada nos primeiros três meses do ano, a economia americana voltou a reagir, reforçando projeções de que os EUA têm fôlego para crescer a um ritmo anualizado de 3% por vários trimestres. A forte criação de empregos e a venda de casas novas e de veículos em maio mostraram que a atividade parece estar de volta aos trilhos, embora a valorização do dólar deva continuar a afetar a indústria. Ao encarecer exportações e baratear importações, a moeda mais forte tende a inibir uma retomada mais exuberante. 

    No primeiro trimestre, o PIB dos EUA caiu 0,7% em termos anualizados, recuo que se deveu em grande parte a fatores temporários, apontam analistas do Bank of America (BofA Merrill Lynch). Foi o caso do inverno rigoroso, que tirou cerca de 0,5 ponto percentual do PIB no período, e das greves nos portos da Costa Oeste, que teriam “roubado” outro 0,2 ponto. Economistas dizem ainda que o Centro de Análises Econômicas não conseguiu descontar adequadamente fatores sazonais no primeiro trimestre. 

    Outros dois aspectos mais persistentes também pesaram sobre a atividade no começo do ano: a valorização do dólar e os preços mais baixos do petróleo. O petróleo barato tende a ajudar o crescimento no longo prazo, mas a forte queda causou um tombo nos investimentos no setor de petróleo e gás. Empresas do setor cortaram despesas de capital em mais de 40%. O consumidor, por sua vez, ainda se mostra um pouco cauteloso, poupando boa parte do que economiza com a gasolina mais em conta. 

    Nas contas do BofA Merrill Lynch, uma valorização de 20% do dólar reduz o crescimento em 0,5 ponto percentual ao longo de quatro trimestres. “Olhando para a frente, vemos uma recuperação sólida para um ritmo de 3% de crescimento, mas os ventos contrários do dólar forte e do choque do petróleo vão continuar a evitar uma retomada mais robusta”, dizem os analistas do banco. Em maio, a produção industrial caiu 0,2%, mostrando os efeitos negativos do câmbio sobre o setor industrial. 

    A economista Sara Johnson, da IHS Global Insight, também acredita que os EUA têm condições de crescer na casa de 3% por vários trimestres. A força do mercado de trabalho, a recuperação das vendas no varejo e o maior dinamismo do setor imobiliário dão alento à economia, diz. Em maio, foram gerados 280 mil empregos, acima da média de 170 mil dos dois meses anteriores. “Vejo uma recuperação moderada do crescimento”, diz Sara, lembrando que os dados do PIB do primeiro trimestre podem ser revistos para cima. 

    A Capital Economics destaca as crescentes evidências de que a atividade deu um salto no segundo trimestre. “Maio se mostrou um mês especialmente forte. As vendas de casas usadas atingiram o nível mais alto em seis meses, as vendas de veículos alcançaram o recorde em nove anos e quase 300 mil empregos foram criados”, diz a consultoria, em relatório divulgado ontem. A fraqueza do primeiro trimestre teria sido em grande parte relacionada ao clima adverso. 

    O bom momento do mercado imobiliário foi confirmado ontem, com o aumento de 2,2% da venda de casas novas em maio, para o nível mais alto em sete anos. 

    A Capital diz que a alta do dólar afeta bastante a indústria voltado à exportação e que o setor de extração mineral foi duramente atingido pelo recuo do petróleo. A consultoria destaca, contudo, que o setor manufatureiro e o de mineração respondem por apenas 15% do PIB. “Os outros 85% da economia têm mostrado desempenho forte.” 

    Analistas notam que a economia pode avançar ainda mais se o consumidor voltar a gastar. Em abril, a taxa de poupança pessoal ficou em 5,6% da renda disponível, bem acima dos 3% de 2006 e 2007, os anos anteriores à crise financeira global. Para o BofA Merrill Lynch, o consumidor parece mais cauteloso após a Grande Recessão, que durou do fim de 2007 a meados de 2009, e mais reticente em gastar o dinheiro economizado com a gasolina mais barata. O banco diz, porém, que haverá uma resposta defasada dos americanos à queda dos preços dos combustíveis, fazendo o consumo reacelerar. 

    As projeções para 2015 apontam crescimento um pouco inferior aos 2,4% de 2014, devido à retração do primeiro trimestre. A Capital projeta expansão de 2,3% e o BofA Merrill Lynch, de 2,2%. Mas elas podem ser revistas para cima.

     

    Fonte: Valor Econômico

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