Aposta em corte de juro em 2016 perde força

    Em 45 dias, desde a última reunião do Copom, o cenário político embolou, o dólar foi às alturas e eliminou de vez qualquer expectativa de convergência de inflação para a meta em 2016. Ou melhor, a convergência, que ilustrou o discurso dos dirigentes do Banco Central meses a fio, pode se concretizar desde que a economia, em 2016, leve um tombo maior do que o esperado. Com o agravamento do quadro recessivo e sem qualquer sinal de alívio do lado fiscal no curto prazo, o mercado entende que o espaço para uma reação da política monetária é limitado. Ainda assim, pesquisa realizada do Valor mostra que as perspectivas de corte de juros em 2016 ficaram menores. E, mais que isso, que economistas trabalham com a expectativa de aumento do juro real de 4,1%, em 2015, para 6,46% no ano que vem, em média. 

    Para o encontro do Comitê de Política Monetária (Copom) desta semana, é unânime a expectativa de manutenção da Selic em 14,25% ao ano. O mesmo consenso está nas projeções para o nível do juro básico no fim de 2015. Mas há uma mudança importante nas perspectivas para 2016. A pesquisa feita nesta semana mostra que 9 dos 32 entrevistados – ou 28% da amostra – esperam que a Selic permaneça em 14,25%, previsão apresentada apenas por um economista (ou 3%) na sondagem anterior, feita às vésperas da reunião do Copom dos dias 1º e 2 de setembro. 

    Além disso, 50% dos 32 entrevistados veem a possibilidade de a Selic cair de 1 a 2 pontos percentuais até dezembro do ano que vem para o intervalo de 12,25% a 13,25% ao ano. Há 45 dias, 56% da mesma amostra viam a chance de queda maior, de 2 a 2,5 pontos, para o intervalo de 12% a 12,5%. Embora tenha havido essa mudança na distribuição das projeções, o intervalo de variação – de 11% a 14,25% – se manteve. 

    O estrategista-chefe do Banco Mizuho, Luciano Rostagno, é um dos economistas que revisaram suas projeções. Ele elevou em 2,25 pontos percentuais a estimativa da Selic para 2016 (de 12% para 14,25%). Ele atribui esse ajuste a um conjunto de pressões sobre os preços – em menor magnitude comparado com os aumentos deste ano – que devem impedir que a inflação convirja para o centro da meta. “A alta do dólar, o reajuste de 10% do salário mínimo e mais uma rodada de aumento das tarifas controladas pelo governo pressionarão os preços, forçando o BC a manter o juro em patamar elevado por um período prolongado.” 

    Também a Verus Gestão de Patrimônio estava com a maioria dos analistas e contava, até a última quarta-feira, com uma queda de 2 pontos percentuais na taxa Selic até dezembro de 2016, de 14,25% para 12,25% ao ano. Mas, em função das incertezas políticas, a casa passou a trabalhar com a ideia de estabilidade da Selic até o fim do ano quando o Supremo Tribunal Federal concedeu três liminares para suspender o rito de tramitação do processo de impeachment definido pelo presidente da Câmara dos Deputados, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), com base no regimento interno da Casa. “Nos reunimos e decidimos alterar a Selic esperada para 2016 para o nível atual de 14,25%. Ou seja, avaliamos que se não tem melhora fiscal, nada mudará na terrinha…”, afirma Deiwes Rubira, ex-presidente do ING no Brasil e sócio fundador da Verus. 

    Para Marcos Caruso, economista do Banco Pine, há sinais de que o Banco Central “desistiu de 2016”. “Será curioso, então, acompanhar a comunicação do BC: suas projeções pioraram, as expectativas de mercado pioraram até 2018 e eles seguem sugerindo uma Selic em 14,25% para a convergência da inflação no fim de 2016″, diz. Tudo isso, em um ambiente de discussão sobre a possibilidade de o país entrar em “dominância fiscal light”: sem monetização dos déficits, mas com constrangimento na subida da Selic pela dinâmica da despesa com juros. 

    Com isso, a aposta do BC, na visão do economista, deve ser aguardar a quebra da inércia inflacionária pela deterioração ainda mais acentuada do emprego e da renda. “Em outras palavras, caímos em uma conta perversa: qual nível de desemprego seria capaz de conter a inflação dado o ambiente de ajuste fiscal aquém do necessário para a estabilização da dívida e aparente enfraquecimento da autoridade monetária? Quanto pior a coordenação entre políticas maior o desemprego necessário.”

     

    Fonte: Valor Econômico

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