Ata do Copom deve ser firme após quebra de rotina no câmbio

    Por Lucinda Pinto e José de Castro | De São Paulo

    A perspectiva de mudança no comportamento do Banco Central na condução do programa de venda de swap cambial, após o BC ter atrasado ontem a divulgação das condições do leilão de hoje, reforça a expectativa de que a ata do Comitê de Política Monetária (Copom) trará um tom firme, reforçando a aposta na continuidade do aperto monetário.

    O mercado entende que o Banco Central estava diante de um impasse: ao subir os juros, ampliaria o fôlego da valorização do real. Em um momento em que a tendência do dólar no mundo é de queda, por causa do adiamento da normalização da política monetária americana, essa atuação poderia tirar o câmbio da “zona de conforto” do governo. Afinal, ela foi implantada quando o dólar estava sob pressão por causa da expectativa da redução das compras de bônus pelo Federal Reserve e a cotação alcançou R$ 2,45. Agora, com o pronto abaixo dos R$ 2,20 – mas com as expectativas de inflação ainda salgadas -, o BC parecia estar em uma saia-justa.

    Para o economista-chefe da Votorantim Wealth Management, Fernando Fix, não há dúvidas de que a condução da política monetária deve focar a inflação que, segundo ele, deverá ser mais alta pelos próximos cinco meses. Ainda assim é inegável que o recuo do dólar passou a ser um foco de atenção. “Embora não se possa tratar de competitividade da indústria só falando de câmbio, é fato que um dólar muito baixo, perto de R$ 2,00, gerou problemas”, afirma.

    Fix vê sinais de fraqueza da economia e, por isso, “a questão do câmbio ainda está presente”. De todo modo o especialista vê a inflação rodando ao redor de 0,70% nos próximos cinco meses, o que impõe a necessidade de um aperto monetário adicional. A opção do BC em ajustar a atuação no câmbio, portanto, pode significar que ele está mesmo disposto a ir à frente com os juros. Por isso, Fix considera que há uma grande chance de a ata autorizar uma aposta em uma Selic de 10% ou 10,25%, embora seu cenário hoje ainda seja de juro a 9,75%. “Seria bom que a ata viesse mais dura, sinalizando uma responsabilidade do Banco Central com a inflação”.

    Para o diretor para América Latina da Nomura Securities, Tony Volpon, o BC não pode confundir a política cambial com a monetária -embora haja influência direta entre elas. Portanto, a pressão de valorização cambial não pode inibir uma alta mais firme do BC nos juros. Ele compartilha da visão de que é importante para a economia brasileira que o câmbio se desvalorize no médio e longo prazo e que, por isso, não faz sentido deixar o dólar retornar ao patamar de R$ 2,00. “Por isso, ele precisa ordenar, embora não possa impedir, o ajuste do câmbio”, afirma Volpon.

    Ele considera que o BC está, pela primeira vez desde agosto de 2011, diante de uma oportunidade de “recolocar a política monetária nos trilhos”. “Apesar da inflação corrente ter caído, o câmbio tenha se valorizado, não haver choques exógenos e a economia não estar super aquecida, as projeções de inflação só sobem.” Para evitar que as expectativas continuem piorando, diz Volpon, é preciso reforçar na ata que ele está disposto a romper a barreira dos 10%.

    “O BC deveria aumentar mais a Selic e deixar a porta aberta para mais altas. Dessa forma o BC ganha tempo e tem condições de recuperar ainda mais credibilidade”, afirma o economista-chefe do Banco Pine, Marco Maciel. Por isso, ele concorda que o foco do BC deve ser o controle da inflação, o que exigirá pelo menos mais um aumento de 0,50 ponto percentual da Selic em novembro. O economista diz que a conjunção de um aumento adicional dos juros com manutenção das atuações diárias no câmbio poderia colocar o dólar em níveis em níveis que deflagrariam reclamações do governo. Ajustar essa atuação, portanto, parece a melhor saída.

     

    Fonte: Valor Econômico

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