Ata do Copom deve sinalizar cautela em próximos passos

    O tom de cautela deve pautar o discurso do Copom na ata de sua última reunião de política monetária, que será divulgada na manhã de hoje. Com distância de dois meses até o próximo encontro e, por ora, sem avanços concretos para aprovação da Reforma da Previdência, a percepção entre especialistas é que o documento manterá certo grau de liberdade do colegiado em relação a seus próximos passos.

    O colegiado anunciou na última quarta-feira a redução da taxa básica, a Selic, para a nova mínima histórica de 7% ao ano. O Copom apontou ainda que, mantido o cenário básico, há a perspectiva de corte adicional da taxa Selic, mas numa intensidade menor, em fevereiro. Esses são alguns dos pontos a serem observados na ata.

    Definição da expressão “cautela”: A explicação do uso dessa palavra no comunicado pode sinalizar para quais os cenários alternativos o Copom estaria mais inclinado. Uma das dúvidas é se a “cautela” mencionada estaria relacionada especificamente à decisão de fevereiro, deixando na mesa uma opção mais dura ao cenário básico, ou se isso se aplicaria mais a encontros posteriores, preparando o mercado para o fim do ciclo. A ata pode ainda explicitar se a postura é voltada a ambos os casos. Não há leitura consensual no momento: grande parte dos especialistas trabalha com a perspectiva de corte final de 0,25 ponto percentual da Selic na primeira reunião do ano que vem. Há também instituições que apostam que a flexibilização terminaria apenas em março e, ainda, quem enxerga o processo já encerrado no nível atual.

    Reforma da Previdência: Uma das grandes fontes de incerteza no cenário é a tramitação no Congresso da reforma previdenciária. A proposta é apontada como fator importante para derrubar o juro real neutro da economia e, assim, garantir Juros baixos no Brasil. A leitura de especialistas de mercado é a de que o BC deve reforçar a relevância da agenda reformista, mas sem entrar em detalhes. Uma surpresa nessa frente, com falas mais diretas sobre o impacto de uma aprovação ou fracasso da iniciativa do governo, poderia indicar o ponto final do ciclo de cortes.

    Conjuntura econômica benigna: Diante das incertezas políticas, cresce também a dependência de dados econômicas para definir a trajetória da Selic. Por ora, a inflação continua se mostrando favorável para a queda de Juros. O IPCA de novembro, por exemplo, ficou aquém do esperado e, desde sua divulgação na semana passada, as Instituições Financeiras têm revisado as projeções de inflação deste ano para baixo. Apesar disso, não se espera grande mudança nas projeções do BC em relação ao comunicado, até porque são as estimativas de 2018 e 2019 que ganham importância para a política monetária. Ainda assim, possíveis ajustes serviriam também de sinal para verificar o espaço que resta até o ponto final da trajetória da Selic. Nos cenários para Juros e Câmbio extraídos da pesquisa Focus, as projeções do Copom estavam em torno de 2,9% para 2017, 4,2% para 2018 e 4,2% para 2019. Esse cenário supõe uma trajetória de Juros que encerra 2017 e 2018 em 7%, e 2019, em 8%.

    Ambiente externo: O Copom tem apontado que o cenário externo tem se mostrado favorável. Isso porque a atividade econômica global vem se recuperando sem pressionar em demasia as condições financeiras nas economias avançadas. Desta vez, a ata da reunião do Copom será divulgada um dia antes da decisão do Fed. No mercado, a leitura é que o comitê do BC ainda deve destacar o ambiente benigno lá fora. Por outro lado, com o esperado aperto monetário nos EUA e sinais de redução de estímulos em outros países, alguns acreditam que o Copom deve começar a mudar a linguagem gradualmente para sinalizar uma janela menor para a queda de Juros.

    Fonte: VALOR ECONÔMICO

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