O Comitê de Política Monetária (Copom) comunicou com clareza sua intenção de promover uma redução no ritmo de corte da Selic no encontro de outubro e de conduzir um encerramento gradual do ciclo iniciado em outubro do ano passado, mas optou por manter a flexibilidade explicitando custos e benefícios dessa estratégia, bem como as condicionalidades impostas pelo cenário básico e balanço de riscos.
Na semana passada, o colegiado presidido por Ilan Goldfajn cortou a Selic em 1 ponto percentual, para 8,25% ao ano, e indicou como adequado, neste momento, uma redução moderada na magnitude de flexibilização monetária, o que elevou as apostas de corte de 0,75 ponto no próximo encontro.
Na ata, os membros do colegiado defenderam a necessidade de manter a flexibilidade para a política monetária reagir a contento em caso de mudanças no cenário básico e no balanço de riscos.
Dentro desse contexto, os membros partiram para o debate sobre o ritmo de corte e eventual sinalização sobre o encerramento do ciclo. “De forma geral, os membros do Comitê concordaram que, tudo o mais constante, há benefícios em se promover encerramento gradual de ciclos monetários”, diz a ata.
Entre os benefícios listados estão a facilidade de comunicação e a possibilidade de se acumular evidências sobre o comportamento da atividade.
Por outro lado, o Copom ponderou que em alguns casos excepcionais a necessidade de antecipação tempestiva do ciclo pode trazer benefícios maiores que os de um encerramento gradual.
“Avaliando as circunstâncias atuais, o Copom julgou conveniente sinalizar que, caso o cenário básico evolua conforme esperado no momento, o Comitê antevê encerramento gradual do atual ciclo de flexibilização monetária”, diz a ata.
O Copom também avaliou que a política monetária tem flexibilidade para reagir a riscos que existem no cenário para ambos os lados. Tanto ao risco de que efeitos secundários do choque de alimentos e propagação do nível corrente baixo de inflação venham a produzir inflação futura abaixo do esperado, quanto ao risco de um possível impacto inflacionário proveniente de um eventual revés do cenário internacional num contexto de frustração das expectativas com ajustes e reformas.
Para o colegiado do BC, a aprovação e implementação das reformas, notadamente as de natureza fiscal, e de ajustes na economia brasileira são fundamentais para a sustentabilidade do ambiente com inflação baixa e estável, para o funcionamento pleno da política monetária e para a redução da taxa de Juros estrutural da economia.
A ata reforça o entendimento de que as atuais taxas de Juros reais ex-ante já têm efeito estimulativo sobre a economia. O juro real, considerando o Swap de 360 dias descontado o IPCA projetado em 12 meses oscila ao redor de 3% a 3,5% ao ano.
Para o Copom, a conjuntura econômica prescreve política monetária estimulativa, com taxas de Juros abaixo da taxa estrutural. E isso decorre de expectativas de inflação ancoradas, medidas de inflação subjacente em níveis baixos, projeções de inflação ligeiramente abaixo da meta para 2018 e elevado grau de ociosidade na economia. Essa observação é que abre espaço para apostas de juro baixo por prolongado período de tempo.
O BC também tem uma avaliação melhor sobre a atividade, afirmando que a economia deve seguir em trajetória de recuperação gradual, cujos primeiros sinais já são perceptíveis e que, à medida que a recuperação avança, o crescimento do consumo deveria abrir espaço para a retomada do investimento. Também há sinais de recuperação do emprego.
A ata dedica alguns parágrafos à avaliação sobre os preços de alimentos, cujo comportamento favorável persiste até o momento, e explica que essa queda intensa constitui uma substancial surpresa desinflacionária, que responde por parcela relevante da diferença entre as projeções de inflação para 2017, que rondam os 3%, e a meta de 4,5% vigente para este ano.
O BC pondera, no entanto, que tanto as projeções quanto as expectativas para 2018 embutem alguma normalização da inflação de alimentos. Mas que uma normalização mais lenta constitui risco baixista para essas projeções. A retomada da atividade também atua no sentido de gradualmente levar a inflação em direção à meta ao longo de 2018.
A avaliação sobre a conjuntura internacional é que ela segue favorável, com recuperação gradual da atividade, sem pressão sobre as condições financeiras nas economias avançadas. Também foi enfatizada a maior capacidade da economia brasileira em absorver eventual revés externo devido à situação robusta de seu balanço de pagamentos e ao ambiente com inflação baixa, expectativas ancoradas e perspectiva de recuperação econômica.
Copom indica que juro pode ficar baixo por um bom tempo
Análise
Alex Ribeiro | De Brasília
A ata do Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central não traz informações novas sobre o ponto final do atual ciclo de distensão, mas dá algumas indicações de que o colegiado acredita que os Jurospermanecerão num patamar mais baixo por algum tempo.
O Copom não incluiu o ritmo de recuperação econômica no seu balanço de riscos, o que parece ser um sinal de que o alto grau de ociosidade da economia tenderá a exigir Juros baixos por um bom período de tempo.
O colegiado também parece um pouco mais convicto de que as reformas econômicas aprovadas e em tramitação no Congresso Nacional vão levar a uma taxa de Juros estrutural mais baixa num futuro não distante.
O próximo passo de política monetária, salvo uma grande mudança no cenário, parece garantido: será um corte de 0,75 ponto percentual, dos atuais 8,25% para 7,5% ao ano. Nos encontros seguintes, o ritmo tende a desacelerar ainda mais.
Não é possível saber ao certo o ponto final do atual ciclo de distensão porque ainda não foram divulgadas as projeções de inflação para 2019 e 2020.
Hoje sabe-se com alguma certeza que os Juros podem cair para 7,25% ao ano no fim de 2017 e, talvez, a 7% ao ano no começo de 2018. Cortes a partir de então teriam efeitos concentrados na inflação de 2019, daí a importância de conhecer as projeções do BC para esse ano. Elas serão divulgadas na semana que vem, no Relatório de Inflação de setembro.
Embora haja dúvidas sobre o ponto final do atual ciclo de distensão monetária, há pistas aqui e ali de que o Copom enxerga um cenário em que os Juros permanecerão baixos por algum tempo.
O BC não define a retomada da atividade como um risco que possa fazer a inflação superar os percentuais projetados pelos seus modelos. São citados apenas dois riscos do lado negativo: uma eventual frustração das reformas e uma eventual mudança nas condições de liquidez para as economias emergentes.
O Copom parece, ainda, mais positivo sobre uma possível queda dos Juros estruturais da economia. Até a ata da reunião de julho, dizia que “a evolução do processo de reformas e ajustes necessários na economia (principalmente das fiscais e creditícias) é importante para a queda da taxa de Juros estrutural”.
Na ata divulgada ontem, o Copom diz que “o processo de reformas, como as recentes aprovações de medidas na área creditícia, e de ajustes necessários na economia brasileira contribui para a queda da sua taxa de Jurosestrutural”.
Até julho, o Copom afirmava que “as estimativas dessa taxa naturalmente envolvem incerteza e continuarão a ser reavaliadas pelo comitê ao longo do tempo”. Na ata que foi divulgada ontem, está dito que “as estimativas dessa taxa serão continuamente reavaliadas pelo comitê”.
Certamente, o nível de Juros que vai permanecer após o fim do ciclo não precisa ser definido agora. Mas, desde já, o Copom parece focado em coordenar as expectativas do mercado financeiro para um possível período de Juros baixos.
Fonte: VALOR ECONÔMICO