É lugar-comum afirmar que os governos passam e as instituições ficam. São elas que dão estabilidade ao Estado e asseguram à sociedade que mudança de regras segue vias democráticas, conforme estabelecido na Lei maior. Causa preocupação, por isso, a campanha do Partido dos Trabalhadores de desmoralização do Banco CENTRAL (BC). Ela atira no que vê e acerta no que não vê.
No afã de desmontar o programa de Marina Silva, o PT ataca a proposta de independência da autoridade monetária. E o faz de forma assustadoramente irresponsável. De um lado, afirma que a presidenciável entregará o BC aos banqueiros. De outra, que tirará a comida da boca dos brasileiros. Os marqueteiros mostram imagem de derrota: pratos somem da mesa e letras fogem dos livros.
A mensagem, transmitida no horário eleitoral gratuito e veiculada em inserções ao longo do dia, visa incutir o medo na população menos politizada, incapaz de perceber a manipulação nela contida. Eleita a candidata socialista, sugere a peça publicitária, as conquistas que melhoraram a vida do trabalhador desaparecerão como num toque de mágica. No lugar, ficará a pobreza, a fome, a ignorância.
Não só o dito conta. O sugerido fala muito mais. Ora, se é esse o pensamento do governo a respeito da atuação do Banco CENTRAL, uma inferência se impõe: a política monetária não está nem tem estado nas mãos do presidente do BC, ALEXANDRE TOMBINI. É Dilma Rousseff quem dita as regras no tema talvez mais sensível dos que figuram na agenda nacional.
Em bom português: longe de atuar com a autonomia necessária para manter o valor da moeda, o BC obedeceria a ordens do Planalto. É preocupante. O Banco CENTRAL precisou de anos para construir a credibilidade, que não decorreu de favor, mas de conquistas amealhadas com a vitória em sucessivas e heroicas batalhas conduzidas de forma independente determinada pelos presidentes Fernando Henrique Cardoso e Luiz Inácio Lula da Silva.
Graças a trabalho técnico que não raro contrariava o inquilino do Planalto, o BC venceu a hiperinflação, deu ao país uma moeda estável e mantém o dragão inflacionário sob controle. Ou melhor, mantinha. No governo Dilma, com a presidente da República dando as cartas na política monetária, a carestia se mantém no limite da tolerância, de 6,5%. Pior: em 12 dos 44 meses da atual administração, o Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) estourou o teto da meta.
Os números comprovam o quanto um Banco CENTRAL subserviente, dominado por interesses eleitorais, faz mal ao país. Não se pode esquecer de que os mais pobres pagam o preço mais alto pela inflação. Sem proteção, veem o poder de compra desabar. É o custo de vida elevado que tira a comida da mesa e reduz os recursos para a educação. Pena que a propaganda eleitoral opte por distorcer a verdade com o único intuito de garantir poder a um partido. O Brasil não merece.
Fonte: Correio Braziliense