Atividade fraca freia déficit externo

    Por Alex Ribeiro e Eduardo Campos | De Brasília

    A desaceleração mais forte do que a esperada da economia ajuda a segurar o déficit em conta corrente do país, mostram dados e projeções divulgadas pelo Banco CENTRAL (BC). A previsão oficial para o déficit deste ano foi mantida em US$ 80 bilhões, ou 3,47% do Produto Interno Bruto (PIB). A estabilidade do número, porém, esconde alguns desenvolvimentos desfavoráveis na corrente de comércio e demais trocas do Brasil com o exterior.

    De um lado, a debilidade da economia está segurando as importações, cujo crescimento neste ano foi reestimado de 1,2% para 0,2%, e também tem reflexo negativo na lucratividade de empresas e suas remessas de resultados ao exterior, que foram revisadas de US$ 27 bilhões para US$ 26 bilhões. De outro lado, a recente valorização cambial e a fraqueza da atividade econômica mundial puxam para baixo as exportações, cuja expansão neste ano foi recalculada pelo Banco CENTRAL de 4,5% para 1,2%.

    O resultado disso é uma revisão para baixo nas projeções oficiais para a corrente de comércio neste ano, que representa a soma das exportações e importações do país. Na sua projeção anterior, feita em março, o Banco CENTRAL estimava uma corrente de comércio de US$ 498 bilhões em 2014. Agora, a estimativa é de US$ 485 bilhões.

    Segundo o Rafael Bistafa, economista da consultoria Rosenberg, no caso das trocas comerciais, o fraco desempenho das exportações capta majoritariamente os problemas que afetam a Argentina. Já nas importações a menor atividade doméstica resulta em retração generalizada das compras externas.

    Em maio, o déficit em conta corrente foi recorde, ficando em US$ 6,635 bilhões, mas em 12 meses a conta segue oscilando ao redor dos US$ 81 bilhões, ou 3,6% do PIB desde agosto de 2013.

    Para Bistafa, a atividade doméstica fraca contribui para manter o déficit em conta corrente estável, mas em um patamar considerado desconfortável. “Se esse déficit de US$ 81 bilhões [12 meses] fosse para financiar investimentos, a notícia não seria tão negativa, mas ele financia consumo”, diz Bistafa, lembrando que os gastos com viagens internacionais já são a segunda maior rubrica da conta de serviços, atrás apenas do aluguel de equipamentos.

    O BC fez uma leve redução para baixo na sua projeção para a conta de viagens, com déficit no ano caindo de US$ 18,5 bilhões para US$ 18 bilhões. O ajuste, porém, é pontual e capta a perspectiva de um aumento no gasto dos turistas estrangeiros no Brasil em função da Copa do Mundo.

    De acordo com o chefe do Departamento Econômico do Banco CENTRAL (Depec/BC), Túlio Maciel, as parciais até 18 de junho mostram ingressos de turistas estrangeiros de US$ 365 milhões, o que representa alta de 24% sobre junho do ano passado. Já as despesas de brasileiros no exterior somavam US$ 1,105 bilhão, queda de 11% sobre igual mês de 2013. Esse ingresso maior de dólares de turistas deve aparecer também em julho, já que a maior fatia de gastos é feita com cartão de crédito, e em parte de agosto. No mês passado, os brasileiros tiveram um gasto recorde de US$ 2,266 bilhões no exterior.

    O Investimento Estrangeiro Direto (IED) continuará financiado cerca de 80% do déficit em conta corrente. O Banco CENTRAL manteve a previsão de ingressos desse tipo de capital em US$ 63 bilhões em 2014. No mês passado, o IED somou US$ 5,963 bilhões, totalizando US$ 25,340 bilhões no ano.

    O financiamento do restante do déficit em conta corrente depende, sobretudo, dos ingressos de investimentos em carteiras, como aplicações de estrangeiros em títulos públicos e em ações, um tipo de capital considerado mais volátil e tido como de menor qualidade. Em maio, houve uma inversão da tendência observada em meses anteriores, com o mercado de ações recebendo elevado volume de recursos e o mercado de títulos registrando a primeira saída líquida desde dezembro de 2013.

    O ingresso líquido para ações foi de US$ 6,584 bilhões, mas é influenciado por uma operação pontual de troca de controle no setor de telecomunicações (a fusão da Portugal Telcom com a Oi, que teve impacto no IED do setor). Essa entrada de maio representa 88% dos US$ 7,459 bilhões que ingressaram nesta conta agora em 2014 até maio. Já o mercado de títulos viu saída de US$ 279 milhões, mas tem entrada de US$ 15 bilhões no ano. Considerando apenas os títulos negociados no país, a saída foi de US$ 32 milhões. Em 12 meses ações e títulos somam mais de US$ 40 bilhões em ingressos.

     

    Fonte: Valor Econômico

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