A expectativa de fluxo positivo de recursos e a realização de leilões de rolagem e de linha de dólar com compromisso de recompra pelo BANCO CENTRAL levaram a moeda americana a registrar ontem a maior queda frente ao real desde 24 de setembro. Os juros futuros acompanharam o movimento e recuaram na BM&F.
O dólar teve depreciação de 2,41% ontem e fechou cotado a R$ 3,7679. Analistas, contudo, veem esse ajuste mais como uma correção de curto prazo, principalmente após o retorno dos mercados passado o feriado de segunda-feira, do que como uma tendência, uma vez que as incertezas no cenário político e fiscal ainda persistem.
Com a compra da divisão de cosméticos da Hypermarcas pela Coty, anunciada na segunda-feira por R$ 3,8 bilhões, é esperado que uma parte desse capital ingresse ao país. Apesar do pagamento da operação estar previsto para o segundo trimestre de 2016, o mercado já se ajusta à expectativa de entrada de recursos. Além disso, analistas relataram fluxo positivo para a bolsa local, com a percepção de que comprar Brasil após a recente desvalorização do câmbio ficou barato, e pode desencadear novas operações de fusões e aquisições.
Há ainda expectativa de entrada de recursos decorrentes do projeto de repatriação de bens mantidos no exterior e que não foram declarados à Receita Federal. O projeto deve ser votado hoje na Câmara e a expectativa do governo é arrecadar entre R$ 100 bilhões e R$ 150 bilhões com a tributação sobre esse patrimônio.
O mercado de câmbio ainda reagiu ao início da rolagem do lote de US$ 10,9 bilhões em contratos de swap cambial que vence em dezembro e também à oferta de até US$ 500 milhões por meio de leilão de linha de dólar com compromisso de recompra.
O BC renovou ontem 12.120 contratos de swap cambial que venceriam em dezembro. Se mantiver o mesmo ritmo, o BC deve rolar todo o lote de swaps cambiais que vence mês que vem.
Já em relação ao leilão de linha de dólar com compromisso de recompra, embora a venda seja de recursos novos, há dúvida no mercado sobre a colocação líquida que a autoridade monetária deve realizar esta semana. Isso porque, o mercado estima que há cerca de US$ 400 milhões vencendo hoje referentes a leilões de linha de dólar realizados em 31 de agosto e 8 de setembro, que tinham recompra prevista para 4 de novembro e 2 de dezembro de 2015, e não se sabe se o BC renovará essas linhas.
Questionado sobre o montante em linha de dólar que vence hoje, o BC informou apenas que está previsto o vencimento de US$ 2,3 bilhões entre outubro e dezembro referentes a esses leilões.
A queda do dólar frente ao real contribuiu para a redução dos prêmios de risco nos juros futuros, mas as incertezas em relação à política fiscal e monetária impedem uma queda maior das taxas dos contratos de Depósito Interfinanceiro (DI). Ontem o DI para janeiro de 2016 recuou de 14,27% para 14,25%, enquanto o DI para 2021 caiu de 15,95% para 15,7%.
As expectativas de inflação, contudo, continuam piorando. Pesquisa Focus divulgada ontem aponta que a mediana das projeções para o IPCA para este ano subiu de 9,85% para 9,91%, e para 2016 de 6,22% para 6,29%. A mediana das estimativas dos analistas que integram o ranking “Top 5” do BC, que mais acertam a projeção no médio prazo, para 2016 está acima do teto da meta, em 7,33%.
Com os prêmios altos no mercado de juros, o Tesouro Nacional tem concentrado a venda dos títulos atrelados à inflação nos vencimentos mais curtos. Ontem, o Tesouro vendeu 702.950 Notas do Tesouro Nacional – série B, cuja operação somou R$ 1,846 bilhão. O maior volume foi colocado para os vencimentos em 2019 e 2023.
Fonte: Valor Econômico