Augustin reage e diz que não há piora fiscal

    Por Ribamar Oliveira e Leandra Peres | De Brasília

    Envolvido nas polêmicas sobre a triangulação de recursos para reduzir o esforço fiscal e agora no que seriam críticas de sua própria equipe à condução das contas públicas, o secretário do Tesouro Nacional, Arno Augustin, disse que os juros pagos na dívida pública não estão subindo por causa de uma deterioração fiscal, mas em decorrência da elevação da Selic e dos Treasuries dos EUA. “Não atribuo à deterioração fiscal, inclusive porque não existe isso”, disse. “Nós achamos que a questão fiscal é importante e vamos cumprir a meta de R$ 73 bilhões deste ano”, assegurou em entrevista ao Valor PRO, serviço de informação em real do Valor.

    Para Augustin, no momento em que o Banco Central eleva a Selic e os juros americanos também sobem, as taxas pagas pelo Tesouro também aumentam. “Há uma absoluta correlação entre essas coisas”, afirmou. “A [elevação ] Selic é um movimento proposital do governo no sentido de adequar as taxas de juros àquilo que ele acha melhor para a economia”, argumentou. “A política monetária é feita com esse objetivo, de adequar a taxa de juro nominal e, indiretamente, a real àquilo que se acha ser melhor para a economia”.

    O secretário não vê sentido em atribuir a atual elevação das taxas pagas pelo Tesouro a “alguma especificidade”, como, por exemplo, à atuação dele na condução da política fiscal ou ao governo. “Tentar atribuir esse comportamento a fatores outros, fora da conjuntura do mercado internacional e nacional, não acho correto, a não ser que a pessoa demonstre”, afirmou.

    Pega de surpresa pelas matérias publicadas ontem na imprensa de que a equipe técnica do Tesouro ensaia uma rebelião contra o chefe, a presidente Dilma Rousseff cobrou explicações. Em reunião com o ministro da Fazenda, Guido Mantega, a presidente quis saber o que acontece de fato no ministério. Apesar da irritação com mais um desgaste causado pelo Tesouro, fontes do Palácio do Planalto garantem que Augustin continua firme no cargo.

    O ministro Mantega também saiu em defesa de seu secretário. “Pode ter havido um ou outro funcionário que pode não ter gostado de uma ou outra coisa, mas o secretário está bem. Ele cumpre suas missões, principalmente na área da gestão da dívida pública”, disse, após evento em São Paulo.

    Mantega ressaltou que a dívida está sendo alongada como previsto, com seus custos reduzidos. Em referência à imprensa, o ministro afirmou que existem matérias dizendo que em razão da atuação de Augustin, as taxas de juros que o país está pagando para captar recursos são maiores, o que qualificou como “bobagem”. “Foi justamente nesta gestão, e ele é meu secretário do Tesouro há sete anos, e nesses sete anos nós reduzimos as taxas dos títulos brasileiros a seus níveis mais baixos”, disse. Augustin também negou que esteja ocorrendo uma “rebelião” no Tesouro.

    No dia 22 de novembro, o secretário reuniu sua equipe. Participaram da reunião os subsecretários do Tesouro e todos os coordenadores de áreas. Segundo relatos, a equipe técnica teria mostrado insatisfação com o efeito da execução da política fiscal sobre as taxas de juros. Em nota à imprensa divulgada pelo Ministério da Fazenda, os coordenadores negaram que haja “clima de rebelião, confronto ou insubordinação” no órgão.

    A nota confirma a reunião mas diz que “foi realizada com o intuito de debater assuntos de interesse institucional, técnico e administrativo” e seria prova da “forma democrática” como funciona o Tesouro. “Minha equipe está absolutamente unida, tranquila e focada no trabalho”, completou Augustin.

    Para o secretário, a prova de que a dívida está sendo “bem trabalhada” é o fato de que aumentou o prazo médio dos títulos e a participação dos papéis pré-fixados e relacionados a índices de preços. “O prazo médio dos títulos que eram de 3,92 anos no fim de 2012 aumentou para 4,32 anos. Hoje, estamos com 76% da dívida em títulos pré-fixados e índices de preço. O PAF (Plano Anual de Financiamento) será integralmente cumprido”, afirmou. (Colaboraram Rodrigo Pedroso e Flavia Lima, de São Paulo)

     

    Fonte: Valor Econômico

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