Aumenta custo para combater inflação, mostra estudo

    Por Alex Ribeiro e Eduardo Campos | De Brasília

    Um trabalho para discussão que acaba de ser publicado pelo Banco CENTRAL (BC) confirma o que muitos especialistas já vinham suspeitando: ficou mais custoso controlar a inflação porque os preços estão cedendo menos quando a atividade econômica está fraca.

    Os pesquisadores Vicente da Gama Machado e Marcelo Savino Portugal constataram que, nos últimos anos, houve um achatamento da chamada “Curva de Phillips”, que basicamente indica quanto a inflação deve cair quando a economia cresce abaixo de seu potencial.

    O trabalho usa dados até 2011, mas as suas conclusões de forma geral estão em linha com o momento atual. A economia entrou em recessão técnica no segundo trimestre deste ano, com dois períodos seguidos de queda no Produto Interno Bruto (PIB), mas a inflação continua a andar no teto da meta, de 6,5%.

    O achatamento da Curva de Phillips – assim chamada em homenagem ao economista Willliam Phillips, que na década de 1950 constatou a relação entre o desemprego e a inflação – tem uma implicação desfavorável: significa que o custo para baixar a inflação no Brasil ficou mais alto nos últimos anos, já que para conter o avanço de preços é necessário um esforço maior em termos de desaceleração do PIB abaixo do crescimento potencial. Mas também tem um lado positivo: a inflação tende a subir menos quando a economia cresce no limite da sua capacidade.

    Desde o começo da década passada, em várias economias desenvolvidas, como os Estados Unidos, a Curva de Phillips também tem sofrido achatamento, ou “flattening”, como o fenômeno é normalmente descrito na literatura econômica internacional. Não há consenso, porém, sobre o que levou a essa mudança. Uma das teorias que procuraram explicar o fenômeno é que o advento da China como grande exportadora ajudou a conter os preços de produtos industrializados.

    Outros teóricos apontam que isso pode ser resultado do aumento da credibilidade da política monetária, que deixa os formadores de preço seguros de que os preços irão orbitar ao redor das metas de inflação assim que o período de desaceleração econômica passar.

    No Brasil, uma pesquisa feita em 2006 pelo atual presidente do Banco CENTRALALEXANDRE TOMBINI, com outro economista da casa, Sergio Lago Alves, também chegou à conclusão de que, naquele período, a curva havia se tornado mais achatada.

    O trabalho mais recente, de Machado e Portugal, usa uma metodologia diferente e cobre um período mais recente, mas chega basicamente à mesma constatação, mostrando que a tendência de achatamento da Curva de Phillips começada em 2003 continua nos anos subsequentes. O efeito China e o aumento da eficácia da política monetária podem estar por trás do achatamento da curva, embora vários trabalhos acadêmicos apontarem uma perda de credibilidade do BC.

    O trabalho de Machado e Portugal, que é publicado com a ressalva de que não reflete necessariamente a opinião do Banco CENTRAL, está publicado na página da instituição na internet, com o título em inglês “Phillips curve in Brazil: an unobserved components approach”.

     

    Fonte: Valor Econômico

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