Definição sobre quem deve fiscalizar BC seria principal ponto de impasse com governo
Autor da proposta de emenda à Constituição (PEC) que prevê autonomia orçamentária e financeira do Banco Central (BC), o senador Vanderlan Cardoso (PSD-GO) reconhece que há um impasse com o governo de Luiz Inácio Lula da Silva sobre quem fiscalizará o banco: o Congresso, como na proposta, ou o Conselho Monetário Nacional (CMN).
Cardoso negocia com o líder do governo no Senado, Jaques Wagner (PT-BA), uma reunião com o ministro da Fazenda, Fernando Haddad. O relator da PEC, senador Plínio Valério (PSDB-AM), também deverá participar do encontro.
“Vou marcar. Já liguei para o Jaques Wagner para conversarmos com ele e com o Haddad e explicar melhor a proposta para o governo. Podem ser até reuniões separadas”, disse Cardoso.
O senador lembra que a proposta foi protocolada em novembro do ano passado e começará a ser debatida agora. “A PEC foi apresentada no final do ano, mas pelo que eu sei o governo estaria favorável ao ponto central da proposta. Tem esse impasse da fiscalização. O governo defende que seja no Conselho Monetário Nacional. Eu defendo que seja no Congresso, como é hoje”, pontuou.
A proposta tem o apoio do presidente do BC, Roberto Campos Neto, que já defendeu publicamente a autonomia financeira da instituição. Segundo Cardoso, Campos Neto defende que a fiscalização fique a cargo do Congresso e do Tribunal de Contas da União (TCU).
Resistências
O atual texto da PEC deve encontrar resistência entre os servidores do BC. Há reclamações de que a categoria não foi ouvida e os servidores devem buscar negociar os termos propostos. Há um temor sobre a manutenção dos direitos dos servidores ativos, aposentados e pensionistas e um questionamento sobre a natureza jurídica da instituição prevista na PEC, na forma de empresa pública.
O presidente do Sindicato Nacional dos Funcionários do Banco Central (Sinal), Fábio Faiad, disse que a autonomia do BC não precisa ser em forma de empresa pública e defendeu a manutenção do modelo de autarquia pública estatutária.
A proposta prevê que o Banco Central reajuste o valor de taxas e multas cobradas de instituições financeiras para cobrir as despesas do BC. Essa receita é chamada de senhoriagem.
Segundo a assessoria do senador, atualmente o custo anual da instituição está em cerca de R$ 4 bilhões. Já as receitas de taxas e multas giram em torno de R$ 3,2 bilhões, por volta de 80% do total despesas do órgão.
Pela sistemática atual, mesmo tendo recursos próprios, o Tesouro precisa cobrir as despesas do BC e, considerando os valores do ano passado, precisa acrescentar R$ 800 milhões.
Fonte: Valor econômico