Awazu rejeita complacência do BC com a inflação

    Em Istambul, diretor adota discurso mais incisivo

    Assis Moreira De Istambul

     

    O diretor de Assuntos Internacionais do Banco CENTRAL, Luiz Awazu Pereira, afirmou ser fundamental que os ajustes de preços administrados sejam reais e efetivos e avisou que política monetária será “especialmente vigilante” para que a alta da inflação no curto prazo não se propague para o futuro.

    Ao fim da reunião ministerial do G-20, ontem em Istambul, o futuro diretor de Política Econômica do BC conversou com jornalistas brasileiros, o que é raro nesse tipo de ocasião, para relatar o encontro da cúpula – mas visivelmente para deixar uma mensagem ao mercado. 

    Visto como o diretor do BC mais tolerante com a inflação, e assim aparentemente o mais brando na gestão da política de juros, Awazu foi na outra direção, sendo incisivo sobre o papel “crucial” da política monetária, que “não terá nenhuma complacência”, termo que utilizou três vezes. 

    Na reunião de ministros de finanças e presidentes de bancos centrais das maiores economias do mundo, Awazu explicou que a inflação atual se encontra em níveis elevados como reflexo de duas importantes mudanças de preços relativos: o fortalecimento do dólar ante o real e o aumento das tarifas públicas em relação aos demais preços da economia. 

    De um lado, explicou aos parceiros, esses dois movimentos “servem para diminuir as vulnerabilidades da economia brasileira no curto prazo para nos preparar para um desenvolvimento mais sustentável e balanceado a partir de 2016”.

    Mas de outro, esses fatores, no curto prazo, “representam aumento da inflação como vimos em janeiro e como provavelmente [veremos] ao longo da primeira parte do ano”. Ele observou que tais elementos têm levado a uma revisão, pelo mercado, para cima da expectativas de inflação para este ano. 

    Oimportante,segundoAwazu,é que “o papel da política monetária no momento é crucial para limitar os efeitos de segunda ordem dos ajustes de preços relativos”. Nessas circunstâncias, ele considera fundamental que, especificamente, a política monetária se mantenha especialmente vigilante “para garantir que essas pressões detectadas no curto prazo não se propaguem para horizontes mais longos”. 

    Para Awazu, “é fundamental que os ajustes de preços relativos sejam reais e efetivos” para cumprir seu papel macroeconômico de correção dos desequilíbrios. E para isso “a política monetária tem que trabalhar focada no objetivo de trazer a inflação para a meta de 4,5% em dezembro de 2016. 

    O representante do BC brasileiro disse que tal análise foi “muito bem aceita” pelos colegas do G-20

    Indagado se alguma autoridade no G-20 questionou se a inflação romperia a meta este ano, ele retrucou que ninguém perguntou e depois repetiu que a política monetária tem que seguir focada na meta em dezembro de 2016. 

    Ele reiterou no G-20 que o ajuste fiscal vai colocar a dívida pública brasileira em trajetória decrescente, e que a correção de preços relativos “vai contribuir para corrigir desequilíbrios internos e externos”.

    Para Awazu, o quadro complexo da economia global, refletido no G-20, não altera a necessidade de o governo brasileiro prosseguir com o ajuste doméstico. 

    “Os EUA crescendo um pouco mais, os preços de petróleo mais baratos são fatos positivos líquido, mas não devem nos levar a nenhuma complacência”.

    Ele destacou o impulso na demanda global dado pelos preços relativamente mais baratos do petróleo, mas observou que “de nosso lado, não quer dizer que podemos ter nenhuma complacência” e que é preciso se manter alerta sobre esse período de certa volatilidade. 

    Enquanto Awazu falava aos jornalistas, as telas dos computadores mostravam que o dólar subia mais de 2% e superava R$ 2,83, máxima em dez anos. Indagado sobre como reduzir a volatilidade, ele respondeu que o BC está atuando por meio do programa de oferta de hedge.

    O diretor do BC vê um efeito de compensação na divergência de políticas monetárias, com os EUA preparando-se para subir os juros enquanto o Banco CENTRAL Europeu para injetar liquidez.

    Apesar disso, a análise do BC é de que deve haver volatilidade.

    “O Brasil está preparado para atravessar esse processo e passaremos de maneira segura pela normalização da política monetária nos EUA”, afirmou.

     

    Fonte: Valor Econômico

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