Baixo crescimento global pode se tornar permanente, diz FMI

    A economia global está em recuperação, mas o ritmo de expansão segue muito lento e muito fraco e, sem a adoção de políticas ambiciosas, há o risco de o mundo cair numa armadilha de baixo crescimento, alertou ontem a diretora-gerente do Fundo Monetário Internacional (FMI), Christine Lagarde. Em 2013, o crescimento global foi de cerca de 3%. Nós projetamos melhoras modestas em 2014 e 2015, mas ainda abaixo de tendências anteriores , afirmou Lagarde. Para países como o Brasil, uma das recomendações é aumentar o investimento, para enfrentar problemas de infraestrutura.

    Certamente a economia global se estabilizou desde a crise financeira, mas a recuperação é muito fraca para haver conforto , disse ela, ressaltando a importância de os países se unirem para tomar as medidas corretas, cooperando internacionalmente. Sem isso, nós poderemos enfrentar anos de crescimento lento e baixo .

    Lagarde apontou três obstáculos de curto prazo ao crescimento mais forte da economia global. Nos mercados emergentes, disse ela, o endividamento das empresas tem crescido, e há um risco proveniente da associação de uma maior volatilidade nos mercados com a redução dos estímulos monetários nos EUA. Segundo Lagarde, o que se viu em recentes episódios de instabilidade foi que países com fundamentos mais fracos – grandes desequilíbrios domésticos e externos – têm maior probabilidade de serem afetados. Ela não citou nenhum país.

    Outro obstáculo está nas economias avançadas, caracterizado pelo risco crescente de baixa inflação, especialmente na zona do euro. Para enfrentar esse problema, ela recomendou que o Banco CENTRAL Europeu (BCE) e o Banco do Japão continuem com políticas monetárias expansionistas. O terceiro problema é o aumento de tensões geopolíticas, que podem nublar o panorama econômico global. A situação na Ucrânia, se não se for bem administrada, pode ter implicações mais amplas.

    Para evitar o risco da armadilha de baixo crescimento, Lagarde destacou também que é necessário atacar questões como o desemprego, o alto nível de endividamento e a incerteza financeira. Além de usar medidas de política monetária e política fiscal, é crucial promover reformas estruturais, disse ela. Lagarde citou um investimento melhor e mais focado, mudanças no mercado de trabalho e reformas nos mercados de bens e serviços. No Brasil, Índia, África do Sul e nos países da Asean [que reúne nações como Indonésia, Malásia, Filipinas, Tailândia, Camboja e Vietnã], mais investimentos públicos e privados são essenciais para combater problemas de infraestrutura.

    Ao comentar a situação de crescimento da economia global, Lagarde disse que a atividade econômica está melhorando nos países desenvolvidos, mas a velocidades diferentes. Entre os países avançados, a expansão é mais forte nos EUA, devido à demanda privada robusta e menos rigor no aperto fiscal. Nos emergentes, Lagarde disse que a atividade, que vinha em desaceleração, teve leve recuperação no fim de 2013, puxada pela demanda mais forte nas economias avançadas. A China continuará a ser um motor importante, ainda que mais lento, para um ritmo de expansão mais sustentável.

    Lagarde também deixou clara a sua decepção com o fato de que o Congresso americano, na semana passada, não fez avançar medidas que permitiriam a implementação das mudanças no FMI que têm como objetivo dar mais voz aos países emergentes. É desapontador , disse ela, lamentando que os EUA não aprovem as reformas acertadas em 2010. Para caminharem, as mudanças precisam de 85% dos votos dos membros do FMI. Como os EUA têm quase 17%, a reforma não anda sem a ratificação pelo Congresso americano.

    Lagarde falou a estudantes na Universidade Johns Hopkins, num discurso em que antecipou as linhas gerais do que será discutido em Washington na reunião de primavera do FMI e do Banco Mundial, na semana que vem. Na ocasião, o Fundo vai revisar as projeções para a economia global. Em janeiro, as estimativas eram de uma expansão para o mundo de 3,7% em 2014 e de 3,9% em 2015.

     

    Fonte: Valor Econômico

    Matéria anteriorAgenda do Congresso: definição de pauta na Câmara; CPI no Senado
    Matéria seguinteA disputa em torno do indexador das dívidas