AVALIAÇÃO DO GOVERNO É QUE VOLUME ESTÁ MUITO ALTO. DEPÓSITOS A PRAZO SERIAM O FOCO
Autor: GABRIELA VALENTE valente@bsb.oglobo.com.br
-BRASÍLIA- Num momento em que o crédito voltou a ser foco das discussões para impulsionar o crescimento, o Banco Central (BC) estuda novas mudanças nos compulsórios, aquela parte dos depósitos dos clientes que as Instituições Financeiras são obrigadas a deixar nos cofres do BC. Fontes da equipe econômica ouvidas pelo GLOBO garantem, entretanto, que nada deve ser feito na correria e, muito menos, por motivos conjunturais. O foco é no longo prazo e numa adequação do mercado brasileiro a padrões internacionais de economias maduras.
A avaliação no governo é que o Brasil tem um nível muito alto de compulsórios: a taxa atual é a mais elevada da História. De todo o dinheiro que circula na economia, o BC recolhe R$ 410 bilhões. Esses recursos ficam parados nos cofres da autarquia e custam para o país. Em média, o Banco Central paga 7,3% ao ano para os bancos para remunerar esse capital.
Segundo os técnicos, há a disposição de diminuir compulsórios sobre depósitos a prazo. A percepção é que o Brasil é um dos poucos países que têm esse tipo de compulsório e que o volume é muito alto. São R$ 235,5 bilhões retirados de aplicações como os CDBs.
– Estamos fazendo uma revisão, mas não deve ter nenhum grande anúncio. São ajustes constantes – contou uma alta fonte a par dos estudos, acrescentando: – Os níveis são altos. É natural que a gente pense numa convergência de médio e longo prazos, que será feita devagar e de forma bem previsível.
Segundo fontes, o BC quer continuar a limpeza de normas e burocracias começada em janeiro. No início deste ano, a autoridade monetária decidiu eliminar as exceções nas normas dos compulsórios. Tirou o amontoado de regras criado pela gestão anterior para estimular setores específicos da economia. Havia uma lista de descontos para os bancos que emprestassem recursos para a compra de automóveis e motos, que comprassem carteiras de bancos pequenos ou fizessem contratos de Microcrédito.
‘DESFUNCIONALIDADE DO MERCADO’
Eram 15 descontos diferentes. A instituição que emprestasse recolhia menos compulsório e poderia ganhar rendimento maior que o pago pelo BC. Com a simplificação, os técnicos também queriam diminuir o custo operacional dos bancos para apurar tudo isso diariamente.
– Estamos melhorando o ambiente de negócios – comentou um outro técnico da equipe econômica.
Qualquer mudança feita nos compulsórios é bem vista no mercado financeiro. Para o economista-chefe da corretora Gradual, André Perfeito, diminuir o compulsório é como injetar dinheiro na praça:
– Os compulsórios são altos e refletem uma das desfuncionalidades do mercado monetário e de capitais brasileiro. Diminuir pode ajudar muito aos bancos que estão com sua carteira de crédito em situação difícil.
Fonte: O Globo