Quando os grandes bancos começarem a divulgar os balanços do segundo trimestre, a partir desta semana, os investidores verão os primeiros sinais de um ciclo de deterioração do crédito que tende a se agravar no fim do ano e ao longo do próximo, na avaliação de executivos das instituições financeiras ouvidas pelo Valor.
Pelo menos dois bancos relataram que a inadimplência piorou de abril a junho, algo que os dados do Banco Central (BC) já vinham indicando para a média do sistema financeiro. Em outra instituição financeira, foi só graças a um trabalho de prevenção e troca de dívidas de clientes – um verdadeiro “malabarismo”, nas palavras de um diretor – que os calotes não subiram.
Tanto consumidores quanto empresas já passaram a atrasar mais os pagamentos e os bancos temem que esse atraso não seja apenas algo efêmero.
“É no fim do ano e em 2016 que a inadimplência deve vir com mais força”, diz o diretor de um banco privado. A visão dele é que os efeitos da perda do emprego, em um primeiro momento, são atenuadas pelas verbas rescisórias e pela poupança, o que adia a inadimplência. Porém, como a duração da crise é incerta, assim como a perspectiva de recuperação do trabalho, há expectativa de que o cliente deixe de pagar.
Se no início do ano foram as grandes empresas as responsáveis pela elevação das provisões para devedores duvidosos (PDD), a tendência é que pessoas físicas e pequenas e médias empresas puxem a piora no fim do ano. Em relação às grandes corporações, os bancos relatam que as reuniões de comitês de avaliação de risco de crédito ficaram mais frequentes e detalhadas, e não só para setores envolvidos na Operação Lava-Jato. Estão sendo olhadas com mais atenção as indústrias automobilística e de construção civil.
Dados de maio do BC, os mais recentes disponíveis, mostram a inadimplência total do sistema financeiro em 3%, ante 2,7% em dezembro. A piora foi mais acentuada em linhas como capital de giro e cartão de crédito.
Segundo o Valor apurou, o Bradesco tem sinalizado em conversas com investidores que as despesas com PDD ficarão mais altas do que a direção do banco imaginava. No começo de 2015, a projeção era que esses gastos apresentariam expansão em linha com o crédito, entre 5% a 9%, sendo que agora o intervalo mudou para algo entre 8% e 12%. Os índices de inadimplência, porém, devem ficar praticamente estáveis neste trimestre.
O Itaú Unibanco tem dito a analistas que há expectativa de alguma piora no índice de calotes agora, em linha com o que o banco havia informado a investidores na última divulgação de resultados. Já o crescimento do crédito tende a ser sustentado pela desvalorização do real ao longo de 2015, uma vez que o banco tem expressiva fatia de sua carteira de empréstimos em dólar.
“O crescimento do crédito é neste ano a métrica menos importante. A qualidade da carteira e as receitas com juros são itens em que estamos prestando mais atenção neste ano”, afirma Eduardo Nishio, do Brasil Plural, que projeta piora da inadimplência da pessoa física a partir do fim deste ano. “Bradesco e Itaú devem ficar nos pisos das projeções de crescimento do crédito. Já as receitas com crédito devem vir melhores que o esperado e as despesas com provisão, piores.”
Carlos Macedo, analista do Goldman Sachs, defende que o crescimento do crédito será um indicador com mais importância em 2016 do que em 2015. Isso porque, neste ano, as constantes elevações da Selic vão turbinar os ganhos de intermediação financeira das instituições. Os resultados de tesouraria, por exemplo, serão maiores, garantindo o desempenho das margens. “Se houver uma queda da Selic no ano que vem, esse quadro [de ganhos] se reverte. Aí o crédito mais fraco preocupa”, diz.
Com uma carteira de empréstimos a pessoa física com forte participação de funcionários públicos, o Banco do Brasil tem sentido menos a pressão da perda de emprego em sua inadimplência, segundo executivos do banco. Ainda assim, o BB tem trabalhado para manter seus clientes, tanto pessoa física quanto jurídica, pagando em dia. O esforço inclui repactuar linhas de cheque especial e de cartão, mesmo que o cliente esteja pagando em dia, e a criação de um portal eletrônico de renegociação.
O banco público também tem conseguido manter o ritmo de crescimento do crédito dentro da projeção para o ano, em especial na pessoa física. O BB prevê crescimento entre 7% a 11% na carteira de crédito ampliada.
Já a Caixa Econômica Federal deve cortar suas projeções de avanço do crédito. Durante a divulgação dos resultados do primeiro trimestre, a Caixa deu início à revisão das estimativas, que previam expansão de 14% a 18% do saldo de empréstimos. O banco deve reduzir esse intervalo. À época, Márcio Percival, vice-presidente de finanças da Caixa, afirmou que a revisão iria incorporar o atual cenário econômico.
“Todos os bancos privados estavam falando de crescimento [do crédito] no piso da estimativa, mas com a perspectiva de retração maior do PIB, já devem rever suas previsões”, diz Carlos Daltozo, analista da BB Investimentos, que não comenta os números do BB. A exceção será o Itaú, que já fez esse movimento no trimestre anterior.
Os três principais bancos privados fizeram cortes nas projeções de retração do PIB neste ano. O Itaú, que esperava em março queda de 1,1% na atividade em 2015, trabalha agora com recuo de 2,2%. No mesmo período, a projeção de retração do Santander saiu de 0,9% para 1,5%, e no Bradesco, de 1,5% para 2,1% em igual comparação. O próprio BC já rebaixou suas projeções para o crédito em 2015 e espera avanço de 9% no saldo de financiamentos, ante 11% antes. (Colaborou Fabiana Lopes)