O diretor de política econômica do Banco Central (BC), Altamir Lopes, renovou a indicação de que o juro básico da economia deve ficar estável nos atuais 14,25% ao ano por um bom tempo. Mas avisou que poderá voltar a subi-los, se for preciso, a despeito da queda da economia.
Em entrevista de divulgação do Boletim Regional, Altamir também esclareceu que os objetivos do BC são perseguir uma inflação mais próxima o possível de 4,5% em 2016, evitando o estouro do limite de tolerância (de 6,5%), e que o centro da meta seria atingido em 2017.
“O Banco Central afirma que adotará as medidas necessárias para o cumprimento dos objetivos do regime de metas e para trazer a inflação à meta de 4,5% ao ano em 2017″, disse Altamir, numa frase previamente preparada para a sua apresentação.
Em seguida, ele explicou o que seria cumprir o objetivo do regime de metas: “O BC vai trabalhar para trazer a inflação em 2016 o mais próximo possível da meta de 4,5% e para esta inflação estar contida no intervalo estabelecido no regime de metas”, disse.
Altamir, um funcionário de carreira do BC que era diretor de administração, assumiu a diretoria de política econômica em fins de setembro, substituindo o economista Luiz Awazu Pereira.
A meta estabelecida pelo governo é uma inflação de 4,5% em 2016, com intervalo de tolerância de dois pontos percentuais para cima ou para baixo. “Para 2017, o BC trará a inflação a 4,5%”. Altamir disse que “de forma nenhuma vemos a possibilidade de rompimento do limite [do intervalo de tolerância em 2016], de forma alguma”.
Apesar da ameaça de subir os juros, Altamir disse que está mantida a indicação do BC de manutenção da Selic nos atuais 14,25% ao ano por um bom tempo. “A manutenção [do juro] por período suficientemente prolongado cumpre esse papel [trazer a inflação à meta], mas se for necessário, o BC tem medidas e pode adotá-las, independentemente do nível de atividade que se apresente”.
Altamir destacou, ainda, que o mandato do BC prevê o cumprimento da meta de inflação – sugerindo que a atividade econômica não está no radar. “É o cumprimento da meta. Esse é o nosso mandato”, disse ele.
Essa foi a primeira entrevista de um dirigente do BC desde que seu Comitê de Política Monetária (Copom) reviu, em reunião dos dias 20 e 21 de outubro, a sua estratégia de política monetária. Até então, o colegiado tinha como alvo cumprir a meta de inflação de 4,5% ao fim de 2016.
Embora até então indicasse a intenção de manter o juro básico, o Copom ameaçava subir a taxa se as suas projeções de inflação para 2016 se desviassem significativamente da meta. Recentemente, a alta do dólar e a deterioração fiscal levaram à piora nas projeções de inflação, mas o BC decidiu não agir.
“Em relação a 2016, por eventos que não estavam no radar, por força de eventos não econômicos que acabaram por afetar preços de ativos, por conta de ajustes de preços relativos mais intensos do que o esperado, o Banco Central entendeu como razoável estender o período de convergência da inflação à meta para 2017″, explicou Altamir.
Segundo Lopes, apesar dessa elevação substantiva de preços, as expectativas de mercado mostram um processo desinflacionário significativo. Como exemplo, o diretor apontou que os preços monitorados têm desinflação esperada em um ano de cerca de 10 pontos percentuais.
“Temos certa indefinição sobre a política fiscal. Isso acabou gerando elevação de preços de ativos, com impactos sobre as expectativas. Na medida em que esse cenário se fizer mais claro, as expectativas vão se reorganizar”, disse. “Mais do que o resultado [fiscal em si], o que afeta de forma significativa é a indefinição sobre qual será a meta, qual será o resultado fiscal. Tem efeito significativo sobre preços de ativos, e traz perturbações.”
Perguntado se o BC teria “jogado a toalha” com relação à meta de inflação, Altamir disse que o BC não jogou a toalha nunca. “Óbvio que não, o BC tem agido desde março de 2013, com um ciclo de alta que é um dos mais fortes da história. Falar que o BC jogou a toalha me parece um pouco forte demais”, disse, complementando que o fato é que o BC adotará as medidas necessárias para o cumprimento dos objetivos do regime de meta. “As expectativas, de certa maneira, estão exacerbadas e refletem esse momento de incerteza com relação à política fiscal”, disse.
Fonte: Valor Econômico