BC dá primeiro sinal de mudança em sua estratégia

    Banco Central começou a sinalizar a mudança de sua estratégia de política monetária, dando a primeira indicação de que pretende adiar o cumprimento da meta de inflação de 2016 para 2017, em comunicado divulgado ontem logo após a reunião de seu Comitê de Política Monetária(Copom). 

    Como esperado, o colegiado manteve a taxa básica Selic em 14,25% ao ano e reiterou a indicação de manutenção dos juros por período suficientemente prolongado. Mas, desta vez, indicou que esse é o caminho para “a convergência da inflação para a meta no horizonte relevante dapolítica monetária“. A decisão foi unânime. 

    No comunicado anterior, de setembro, o Copom era mais específico sobre o tempo em que pretendia colocar a inflação na meta. Naquela oportunidade, ele dizia que os juros estáveis por um bom tempo garantiriam “a convergência da inflação para a meta no final de 2016”. 

    O horizonte da política monetária, hoje, nos cálculos do BC, é de cerca de dois anos. Esse é o prazo em que altas e baixas na taxa básica de juros afetam a inflação. 

    O comunicado divulgado ontem também deixou implícita a possibilidade de voltar a subir os juros se a trajetória da inflação for diferente da planejada. O comunicado diz que “a política monetária se manterá vigilante para a consecução desse objetivo” de colocar a inflação na meta no horizonte relevante. 

    Às vésperas da reunião, o Copom já havia dado indicações de que iria reexaminar a sua estratégia como um todo, devido ao ambiente mais desafiador para cumprir o compromisso que assumiu de colocar a inflação na meta de 4,5% já no ano que vem, depois que incertezas sobre a política fiscal levaram à alta do dólar e à deterioração das expectativas inflacionárias do mercado. 

    Estava sob exame a possibilidade de adiar de 2016 para 2017 o prazo de convergência da inflação para a meta. E também uma revisão no “forward guidance” da política monetária, que de um lado contemplava a estabilidade da taxa de juros por período prolongado de tempo e, de outro, a ameaça de promover novos apertos se a inflação projetada pelo BC se desviasse significativamente da meta de 2016. 

    A expectativa é que detalhes do novo plano de trabalho do Copom seja divulgado na ata da reunião, que sai na próxima quinta-feira, em pronunciamentos públicos de dirigentes do BC ou mesmo no Relatório de Inflação de dezembro. 

    A atual estratégia de política monetária foi definida entre maio e junho passados, quando o BC se preparava para concluir a tarefa de subir ataxa de juros até que a inflação projetada pelos seus modelos chegasse a 4,5% ao final de 2016. De lá para cá, porém, o cenário mudou dramaticamente. 

    De um lado, a economia passou a mostrar uma desaceleração mais forte do que a esperada pelo Banco Central, e o mercado de trabalho tem dado grandes sinais de enfraquecimento.

    De outro lado, divisões na equipe econômica sobre os rumos da política fiscal, com sinais de enfraquecimento do ministro da Fazenda, Joaquim Levy, levaram a cotação do dólar a superar R$ 4,00, piorando as perspectivas inflacionárias. Em fins de setembro, projeções divulgadas pelo Banco Central já apontavam uma inflação de 5,3% em fins de 2016, portanto bem acima da meta. Em tese, pelo “forward guidance” feito pelo BC anteriormente, isso demandaria um aperto adicional nos juros. 

    O BC, porém, decidiu colocar a política monetária em compasso de espera, pregando “calma e discernimento” para avaliar o quanto da alta do dólar e das incertezas fiscais afetariam de forma permanente as projeções de inflação do BC. Agora, com um ambiente mais assentado, o Copom decidiu que era a hora de reexaminar a sua estratégia. A falta de ação do Banco Central havia levado o mercado financeiro a especular se a autoridade monetária estaria de mãos atadas para mexer na taxa básica. Há duas teses no mercado. 

    Uma diz que o Brasil está numa situação de “dominância fiscal”. Nessas circunstâncias, altas de juros fragilizam ainda mais a posição fiscal do governo e levam a mais inflação, e não menos, como normalmente seria de se esperar. O BC, porém, nega que a economia esteja sob dominância fiscal e diz que o debate entre economistas privados ocorre de forma descontextualizada. 

    Outros analistas acreditam que o BC vai adiar o cumprimento da meta de inflação de 2016 para 2017 porque a taxa de sacrifício que a economia está pagando para conter o avanço dos preços, em termos de recessão e de alta do desemprego, está mais elevada que o esperado. Mesmos os banqueiros centrais mais ortodoxos admitem que existe uma trajetória ótima de convergência da inflação para a meta de modo a suavizar a volatilidade da atividade econômica. 

    O presidente do BC, Alexandre Tombini, mencionou em discursos recentes que as pressões inflacionárias provocadas pela alta do dólar devem se fazer sentir em prazos mais curtos, enquanto que a política monetária demora mais para chegar à inflação e tem efeitos mais prolongados. Assim, a inflação subiria num primeiro momento, mas em seguida cairia. 

    Segundo as projeções apresentadas no Relatório de Inflação de setembro, a variação do Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) deve chegar a 5,3% em 2016, mas tende a cair abaixo do centro da meta no ano seguinte, chegando a 4% no período de um ano até o terceiro trimestre de 2017.

     

    Fonte: Valor Econômico

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