BC dos EUA supreende e dólar desaba

    Fed mantém estímulos e moeda americana.cai 2,92%, para R$ 2,194

    João Sorima Neto, Bruno Villas Bôas e Flávia Barbosa

     

    O Federal Reserve (Fed, banco central americano) surpreen­deu ontem o mercado internacional ao anunciar, com apenas um voto dissidente, a manutenção do seu programa de com­pra mensal de US$ 85 bilhões em títulos, que funciona como um estímulo à econo­mia. A decisão provocou uma forte de des­valorização do dólar pelo mundo e levou a uma euforia nos mercados de ações, que atingiram níveis recordes em Wall Street. No Brasil, o dólar comercial fechou em queda de 2,92% frente ao real, a R$ 2,194, a menor cotação desde 26 de junho. Na mí­nima, o dólar chegou a ser negociado a R$ 2,187, uma baixa de 3,23%.

    Assim, a moeda brasileira teve a maior valorização entre as 34 principais divisas do mundo, com alta de 3,01% frente ao dólar, superando a lira turca (2,65%), o rand sul-africano (2,25%) e o peso mexica­no (2,06%), segundo a Bloomberg News.

    Desde julho, quando o presidente do Fed, Ben Bernanke, afirmou que o ritmo de compras de títulos poderia ser redu­zido no fim deste ano, os investidores re­fizeram suas posições em todo o mundo e muitas moedas — inclusive o real — sofreram forte desvalorização. Os analis­tas apostavam que o Fed anunciaria on­tem uma redução entre US$ 5 bilhões e US$ 10 bilhões nos estímulos.

    BOLSAS AMERICANAS BATEN RECORDE Em seu comunicado, o Fed informou que “decidiu esperar mais evidências de que o progresso será sustentado antes de ajustar o ritmo de suas compras”. E, com a infla­ção sob controle, o Fed manteve os juros inalterados entre zero e 0,25% ao ano e in­: formou que a maioria do colegiado espera uma alta apenas em 2015.

    Na euforia que tomou conta dos merca­dos, o índice S&P500, das 500 maiores em­presas americanas, subiu 1,22%, para 1.725 pontos, um recorde de pontuação. O Dow Jones avançou 0,95%, aos 15.676 pontos, também recorde. O Nasdaq, do setor de tecnologia, teve ganho de 1,01%.

    Na Bolsa de Valores de São Paulo (Bovespa), que apresentava instabilidade até as 15h, quando o Fed anunciou sua deci­são, a alta foi de 2,64%, aos 55.702 pontos pelo Ibovespa, o principal índice, maior pontuação desde 28 de maio. O volume de negociado foi elevado, de R$ 8,9 bilhões.

    Para o economista Silvio Campos Ne­to, da consultoria Tendências, diante da piora dos indicadores da economia americana, nas últimas semanas, a deci­são de manter os estímulos faz sentido:

    – O mercado imobiliário nos EUA es­friou nas últimas semanas, depois que os juros dos títulos de 30 anos, usados em financiamentos de casas, subiram de 3,5% para 4,5% em apenas dois meses.

    O economista-chefe do Santander As­set Managment, Hugo Penteado, que es­perava redução das recompras em US$ 10 bilhões, avalia agora que o início da retirada dos estímulos pode ocorrer ape­nas na reunião do Fed em dezembro.

    É quando o BC americano terá em mãos dados mostrando a recuperação sustentada da economia — diz Penteado.

    Após a forte queda do dólar ontem, os economistas parecem divididos sobre os rumos da moeda a médio prazo. A Ten­dências prevê o câmbio entre R$ 2,20 e R$ 2,30 no fim do ano. A NGO Corretora fala em dólar a R$ 2,30. Rafael Bistafa, econo­mista da consultoria Rosenberg & Associ­ados, diz que o recuo do dólar foi apenas um ajuste após a alta excessiva em agosto.

    O Brasil segue com os problemas que tornaram o real uma moeda frágil, como déficit em conta corrente e dados fiscais deteriorados — disse Bistafa, que prevê o câmbio a R$ 2,25.

    Já Tony Volpon, da Nomura, passou a prever o câmbio de R$ 2,10 a R$ 2,15 nos próximos meses. André Perfeito, da Gra­dual Investimentos, reviu sua projeção pa­ra o fim do ano de R$ 2,20 para R$ 2,10.

     

    Fonte: O Globo

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