BC e CNDL firmam acordo de cooperação focando na inclusão financeira

    AR Ana Russi*
    Um Acordo de Cooperação Técnica (ACT) na área de cidadania financeira foi assinado no final da tarde desta terça-feira (6/3) pelo Banco Central (BC) e a Confederação Nacional de Dirigentes e Lojistas (CNDL), entidade que administra o SPC Brasil. Por meio de ações coordenadas, palestras, pesquisas e cursos no campo da cidadania financeira para os consumidores brasileiros, o objetivo é reduzir o endividamento da população.
    De acordo com o Indicador de Uso do Crédito do SPC Brasil e da CNDL, 22% dos brasileiros tiveram crédito negado ao tentarem parcelar uma compra em estabelecimentos comerciais ou contratar serviços a prazo, em janeiro de 2018. Os principais motivos para a negativa foram a falta de comprovação de renda e restrições no CPF, exatamente por conta da inadimplência.
    Pesquisas da CNDL indicam que apenas 18% dos consumidores brasileiros estão com as contas no azul e possuem dinheiro para consumir ou fazer investimentos. A maioria, 40%, não possui nem sobra e nem falta de dinheiro. Outros 38% encontram-se no vermelho, sem conseguir pagar todas as contas com a renda que têm.
    Seis em cada dez brasileiros, o equivalente a 58%, não utilizaram de nenhuma modalidade de crédito (cartões, crediário, cheque especial, linhas de financiamento ou empréstimo) no último mês, de acordo com a sondagem do indicador de uso de crédito. Já 42% mencionaram ter recorrido a pelo menos uma das modalidades.
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    Ao longo de dois anos as instituições serão responsáveis por elaborar, em conjunto, as pesquisas Indicados de Confiança do Consumidor, Uso do Crédito e Educação Financeira visando a inclusão financeira da população. Materiais voltados à educação financeira produzidos pelo BC, como o portal ‘Meu Bolso Feliz’ e o aplicativo ‘SPC Consumidor’, serão compartilhados nos canais do SPC Brasil.
    Isaac Sidney Ferreira, Diretor de Relacionamento Institucional e Cidadania do Banco Central, afirmou que a iniciativa é uma busca de parcerias institucionais para fortalecer e institucionalizar o caminho de busca da inclusão financeira, educação financeira e proteção do consumidor. “A população brasileira alcança cada vez mais um nível maior no acesso ao sistema financeiro nacional. O problema é que a educação não é condizente e isso pode significar um risco potencial para o sistema e para o próprio cidadão no que diz respeito ao uso do crédito”, destacou.
    Ele apresentou dados que mostram que entre 2007 e 2016, o número de cliente com acesso ao sistema cresceu de 98 milhões para 138 milhões. E as contas correntes subiram de 62 milhões para 83 milhões. “O ritmo de crescimento da população bancarizada de no mesmo período analisado cresceu em um ritmo de 3.3, atingindo 87% da população”, indicou. Ferreira observou que não há nenhum município brasileiro que não possui acesso ao sistema financeiro nacional.
    Ferreira esclareceu que apesar de, com o acordo de cooperação, as bases de dados das instituições passarem a ser compartilhadas entre si, não será dado acesso a operações individuais sigilosas. “O intercâmbio das bases de dados e as pesquisas será para melhor aferir o comportamento daqueles que têm acesso ao varejo e ao sistema financeiro Um casamento muito interessante para fins de ações de cidadania financeira”, definiu.
    Crédito
    Segundo informações da CNDL e SPC Brasil, apenas 14% dos consumidores consideram a tomada de crédito como algo fácil hoje em dia. Para 51%, contratar crédito trata-se de algo difícil e 22% acham regular. O levantamento indica que 48% dos tomadores de empréstimos e financiamentos atrasaram, em algum momento, parcelas dessa dívida.
    José César da Costa, presidente da CNDL, comentou que o brasileiro possui uma dificuldade de olhar e controlar seus gastos e isso cria uma necessidade de programas de educação financeira. “O brasileiro se preocupa com o valor da prestação e não o valor total do produto. Com essa cooperação técnica nós acreditamos em mudar esse hábito melhorar a vida da população além de aumentar sua capacidade de compra”, completou.
    Roque Pellizzaro Junior, presidente do SPC Brasil, disse que o programa iniciou anos atrás com a necessidade de pesquisas que usassem bases de dados diferentes e a pesquisa de campo. “Queríamos entender os números antes que eles acontecessem. Esse é o grande desafio, talvez, das organizações”, comentou. Segundo ele, a busca é por uma matriz de pesquisas que traga um valor maior para a sociedade de forma a promover segurança no consumidor e ajudar no desenvolvimento econômico do país. “Precisamos de um desenvolvimento sustentável, para o país e para o cidadão”, afirmou.
    O percentual de consumidores que deixaram de pagar o valor integral da fatura de cartão de crédito ficou em 23% no primeiro mês deste ano. O valor é 5% menor do que em dezembro do ano passado, mostram os dados do indicador apurado pelo SPC Brasil e pela CNDL. Quando o cliente não paga o valor integral da fatura, os juros são altos e chegam, em média, a 387% ao ano no caso do não regular e a 241%, no caso do regular, de acordo com os dados oficiais do Banco Central.
    Dados do Indicador de Propensão ao Consumo apontam que, no mês de fevereiro, 49% dos consumidores manifestaram a intenção de reduzir gastos no orçamento. Somente 8% planejavam aumentar o valor das compras. Apesar de a inflação estar sob controle, os preços elevados dos produtos, seguido da busca por economizar e do desemprego, seriam a principal razão para a contenção de gastos.
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    * Estagiária sob supervisão de Anderson Costolli

    Fonte: Correio Braziliense

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