BC fica em estado de alerta após rebaixamento

    Desde às 19h de quarta-feira, o Banco Central (BC) está em estado de prontidão, observando com atenção acima do usual o movimento nos mercados de câmbio e juros e também a saúde do setor financeiro, em especial os bancos de pequeno porte, após o rebaixamento da nota soberana pela Standard & Poor´s (S&P). 

    Na quarta-feira à noite, uma longa reunião foi feita após o anúncio do corte do rating brasileiro para traçar cenários e estratégias possíveis para a quinta-feira, dia em que o mercado reagiria à ação da S&P. A quinta, que contou com mais três dessas reuniões, começou quente, com forte alta do dólar, que bateu em R$ 3,91 – mas US$ 1,5 bilhão ofertado pelo BC via linha com compromisso de recompra deu conta de acalmar os ânimos. Esse US$ 1,5 bilhão equivale a pouco mais de um dia de giro no mercado interbancário. 

    Mas, mais do que eventualmente atender a alguma demanda específica do mercado por dólar físico, o BC estava passando um recado: “estou aqui”. 

    Dólar era o que não faltava – e de fato, não falta, pois o fluxo cambial está positivo no ano em US$ 11,6 bilhões. Não é nada excepcional, mas em igual período do ano passado a conta estava negativa em US$ 2,4 bilhões. Nesse ambiente, em que não falta dólar, os leilões de linha cumprem bem a função de “passar um recado” e desautorizam o uso de um instrumento que está engavetado no BC desde 3 de fevereiro de 2009, a venda de reservas em leilão à vista. 

    Além de desnecessário do ponto de vista técnico, o uso das reservas pelo BC não faz sentido estratégico neste momento. Pode-se questionar a relação custo versus benefício, mas o ponto é simples: as reservas, ainda mais agora depois do rebaixamento, são o único colchão de proteção que sobrou ao país. Das alardeadas “conquistas” dos anos Lula e Dilma 1, essa foi a única que sobreviveu à Nova Matriz Econômica. 

    Enquanto o governo se diz surpreso e aponta que a decisão de rating foi “política” – e de fato foi conforme disse a própria S&P -, o BC vem agindo para demonstrar ao mercado que está pronto para atuar diante do atual cenário. BC não avisa o que vai fazer. BC atua.

     

    Fonte: Valor Econômico

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