BC foi lento para baixar a Selic, afirma Volpon

    Alex Ribeiro | Do Rio

    Um estudo do economista-chefe do UBS, Tony Volpon, mostra que a inflação despencou já no quarto trimestre de 2016, mas o Banco Central demorou muito tempo a reagir, levando cerca de meio ano para promover cortes mais expressivos na Taxa Básica de Juros. Pelos cálculos do economista, a tendência da inflação caiu a apenas 3,9% no quarto trimestre de 2016, abaixo da meta anual de inflação, de 4,5%. Um ano antes, havia chegado a 9,3% e, hoje, a tendência da inflação encontra-se em apenas 2%.

    “Não foi um erro ter mantido os Juros na marra até outubro de 2016, porque foi importante para ganhar credibilidade e ancorar as expectativas”, afirma Volpon, que foi diretor de Assuntos Internacionais do BC na gestão de Alexandre Tombini. “Eu teria feito o mesmo”, completa ele.

    “O erro vem daí em diante”, disse, referindo-se ao período entre outubro de 2016, quando o BC começou a cortar os Juros com um movimento de 0,25 ponto percentual, e abril de 2017, quando adotou um ritmo de redução de um ponto.

    A crítica de Volpon tem um peso especial, num momento em que o Banco Central é cobrado pela inflação muito baixa, porque vem de um economista conservador. Ele ganhou a reputação de “hawk” por ter sido sistematicamente um voto dissidente, entre fins de 2015 e início de 2016, a favor de subir os Juros.

    Volpon usou ferramentas estatísticas para calcular a tendência da inflação, replicando uma nova metodologia usada pelo Banco da Inglaterra e pelo Federal Reserve. Na essência, é uma espécie de núcleo de inflação, calculado a partir de um filtro mais sofisticado que os demais, que tenta eliminar ruídos de preços mais voláteis e determinar o patamar e a direção da inflação.

    O ex-diretor do BC constatou que, em 2015, ocorreu a mais forte aceleração da inflação dos últimos 20 anos, superando até mesmo a crise da primeira eleição de Lula, em 2002. A queda da inflação no período subsequente foi, também, a mais forte do período.

    O recuo da tendência da inflação começou entre o primeiro e o quarto trimestres de 2015, quando passou de 10,3% para 9,3%. Ele atribui essa queda à recessão, em conjunto com a alta da taxa básica patrocinada ainda na gestão Tombini, que levou a Selic ao pico de 14,25%.

    Foi nessa época que Volpon foi um dos dois dissidentes do BC a favor de mais juro. “Olhando em retrospecto, vejo que cada um de nós tinha bons motivos para defender seus pontos de vista”, diz Volpon. “De certa maneira, eu estava certo, porque via uma inflação perigosamente alta. Mas o Tombini também estava certo, porque achava que a inflação não sairia de controle porque o hiato do produto ia segurar”, disse, referindo-se ao alto grau de ociosidade da economia.

    A queda mais pronunciada da inflação, porém, só ocorreu a partir de meados de 2016, quando o impeachment da presidente Dilma Rousseff eliminou os temores de uma crise fiscal. “Foi naquele momento que começou o processo de ancoragem das expectativas”, afirma ele.

    Em fins de 2016, Volpon chegou a dar entrevistas pregando a aceleração dos cortes de Juros. Na época, ele considerava que o BC estava ignorando as recorrentes surpresas inflacionárias favoráveis que já sugeriam que a tendência da inflação mudara.

    Hoje, quando a inflação acumulada em 12 meses chega a 2,46% até agosto, com grande risco de furar o piso da meta neste ano, de 3%, o BC é acusado de ter exagerado na dose. Volpon, porém, não acha que o atraso em acelerar os cortes seja o maior responsável pela inflação baixa. “Foi a combinação de fatores, incluindo a recessão e a mudança no regime político com o impeachment”, afirma. “E também teve a deflação dos alimentos.”

    Volpon diz não compreender, até hoje, as razões para o BC ter demorado a baixar os Juros com mais força. Uma hipótese, afirma, é a instituição, chefiada por Ilan Goldfajn, não ter percebido a mudança na tendência da inflação. Outra, afirma, é ter vinculado a baixa de Juros à aprovação das reformas.

    Os Juros, diz, deveriam refletir as variáveis conjunturais, e a discussão sobre como as reformas afetam a política monetária apenas no longo prazo. De certa forma, essa é a estratégia hoje adotada pelo BC, afirma Volpon.

    Fonte: Valor Econômico

    Matéria anteriorGoverno revoga decreto que extingue a Renca
    Matéria seguinteMalan vê País aos trancos e barrancos