O Comitê de Política Monetária (Copom) sinalizou na ata de sua última reunião, divulgada ontem, que, por ora, a Selic deve ficar em 14,25% ao ano, pois avalia que o cenário de convergência da inflação para 4,5% no fim de 2016 tem se fortalecido e que os avanços obtidos até agora mostram que sua estratégia está na direção correta. No entanto, pode voltar a uma postura “vigilante”, que é a senha para nova elevação do juro, caso ocorram desvios significativos das projeções de inflação em relação à meta.
Para o colegiado do BANCO CENTRAL (BC), os riscos remanescentes para que as projeções de inflação do Copom atinjam “com segurança” o objetivo de 4,5% no fim do ano que vem são condizentes com o efeito defasado e cumulativo da ação de política monetária.
O BC trouxe de volta o “efeito defasado e cumulativo” à sua comunicação na ata. Essa referência tinha sido abandonada no começo de 2015. O BC utilizou esses termos em dezembro do ano passado, quando também falava que o esforço adicional de política monetária tendia a ser implementado com parcimônia.
Na ata divulgada ontem, o BC não fala claramente, mas como não mudou a mensagem central sobre a política fiscal, sobra o comportamento do câmbio como variável com força suficiente para promover uma piora futura em suas projeções de inflação. A moeda americana está em firme escalada de alta e fechou ontem cotado a R$ 3,536.
No parágrafo dedicado às projeções, o BC aponta que, para 2016, a estimativa de inflação mostrou estabilidade nos dois cenários – referência e mercado -, permanecendo acima da meta de 4,5%. O dólar utilizado para fazer a conta foi de R$ 3,25, bem defasado em relação ao preço atual.
O Copom avalia que a política monetária “pode, deve e está contendo” os efeitos de segunda ordem decorrentes do ajuste de preços relativos, para circunscrevê-los a 2015. O BANCO CENTRAL também repete que é necessário ter “determinação e perseverança” para impedir a transmissão da elevada inflação atual para prazos mais longos.
Para o banco Brasil Plural, a ata trouxe vários pontos “dovish” (inclinado ao afrouxamento monetário) para explicar por que o Copom está encerrando o ciclo de alta de juros, mas termina com a observação que sugere que o BC permanece vigilante e pronto para responder a um desvio significativo das projeções de inflação da meta.
“A nossa opinião é que o Copom quer ficar parado por vários meses, e que seria necessário um grande choque, de qualquer forma, para que ele se mova. Enquanto novas altas de juros não podem ser descartadas, se tivermos uma explosão da moeda americana, o cenário mais provável – dado onde as taxas reais estão e o provável aumento do hiato do produto mais à frente, que impactará a inflação – é de um cortes de juros, mas não este ano. Ainda esperamos que a Selic encerre 2015 em 14,25% ao ano”, diz o banco em relatório.
Na leitura do economista-chefe da Garde Asset Management, Daniel Weeks, o Copom indicou que deseja interromper o ciclo de aperto monetário, mas deixou na pauta a possibilidade de uma nova elevação da taxa de juros. Para ele, a variável que pode determinar uma nova elevação da Selic é o desempenho do câmbio. “Embora o BC veja motivos para interromper o ciclo, a rápida deterioração dos preços dos ativos, especialmente do dólar, joga para frente o debate sobre o início do corte dos juros e mantém no radar o risco de novas altas.”
Weeks observa que o BANCO CENTRAL ajustou o discurso ao quadro de atividade mais fraca. “A ata mostrou, pela primeira vez, uma certeza maior de que o mercado de trabalho está em desaceleração”, observa. Também reconheceu a piora do quadro fiscal, o que pode ser um limitador para novas altas.
O Copom fez um verdadeiro contorcionismo para tratar da questão fiscal sem mudar a essência de sua mensagem de que, “no horizonte relevante para a política monetária, o balanço do setor público tende a se deslocar para a zona de neutralidade e não descarta a hipótese de migração para a zona de contenção, mesmo que com menor intensidade”.
A metodologia do BANCO CENTRAL para o fiscal permite esse tipo de abordagem. O BC trabalha com o superávit estrutural – que, além do superávit primário, leva em conta o ciclo econômico e descarta receitas e despesas não recorrentes.
O Copom menciona no parágrafo 24 que, “a depender do ciclo econômico”, a variável fiscal migra para a neutralidade e pode ficar contracionista, mesmo que com menor intensidade. O fato é que um superávit menor, mas dentro de um ambiente de contração econômica, tem efeito parecido com o de um superávit mais robusto em ambiente normal de crescimento.