BC solta o câmbio. Prepare-se para dólar e juros mais altos

    Para economista-chefe para América Latina do Goldman Sachs, Alberto Ramos, essa postura da autoridade monetária, porém, não impede o País a ter um sistema mais estável e taxas menores no médio e longo prazos

    Asinalização do Banco CENTRAL (BC) brasileiro de menor intervenção no câmbio reverte a tendência recente de apreciação do real e pode representar a necessidade de alta maior dos juros. Essa postura do BC, porém, não impede e pode até ajudar o País a ter um câmbio mais estável e juros menores no médio e longo prazos. Caso mantenha ao longo do mês o volume de swaps cambiais do leilão de ontem, o BC deverá rolar apenas cerca de 80% dos US$ US$ 9,66 bilhões vencendo em 1º de junho. Como nesses leilões o BC vende dólar futuro, o volume menor significa menos alívio para o real e maior pressão de alta para a moeda americana. A redução, ou mesmo o fim das intervenções do BC, vem sendo cobrada pelo mercado, que considera o real mais desvalorizado condição necessária para reduzir o déficit em conta corrente e estimular o crescimento. 

    “O BC tem de deixar o dólar andar”, sublinha o economistachefe para América Latina do Goldman Sachs em Nova York, Alberto Ramos, para quem a moeda americana deveria subir ainda mais, na faixa de R$ 3,40 a R$ 3,60, para ajudar a ajustar a economia, mesmo que para isso a autoridade monetária tenha de elevar mais os juros para segurar o repasse do dólar para a inflação. Neste caso, o especialista prevê alta de mais 0,25 ponto percentual da Selic (taxa básica de juros) na reunião do Comitê de política monetária (Copom) de junho, podendo ser mais 0,5 ponto se o dólar seguir subindo e passar de R$ 3,30. 

    O economista, contudo, considera esse ajuste não apenas positivo como necessário. Se o maior realismo cambial for acompanhado pelo ajuste fiscal, o resultado no médio e longo prazo poderá ser a reversão da alta do dólar e dos juros, que se materializará assim que a economia se reequilibrar, com crescimento mais vigoroso. O ajuste clássico de uma economia em recessão, observa Ramos, requer moeda desvalorizada e juros baixos. No curto prazo, é a ausência do ajuste fiscal que faz com que o Brasil tenha de continuar com a distorção de continuar subindo os juros, mesmo com a atividade fraca, para manter a inflação sob controle. 

    A inflação brasileira, acima do nível dos maiores parceiros comerciais do País, é um dos motivos de a balança comercial ainda não ter reagido mesmo após a alta do dólar nos últimos anos. Isso porque a inflação eleva os custos, anulando parte dos ganhos de competitividade gerados pela alta do dólar. O outro motivo é o fato de não apenas o real, mas também outras moedas, como o euro, o iene e o peso argentino, terem se desvalorizado, o que também anula parte da vantagem cambial dos exportadores brasileiros. 

    Quando se desconta o diferencial de inflação e a variação de uma cesta de moedas, a desvalorização do real, de cerca de 30% desde 2013, cai pela metade, para perto de 17%, diz Ramos. 

    Por isso, o ajuste cambial ainda é insuficiente, mesmo após o dólar atingir o patamar de R$ 3,00. O economista do Goldman considera que o desajuste da economia brasileira é ainda maior do que o sugerido pelo déficit em conta corrente, de 4% do Produto Interno Bruto (PIB). Sem a recessão, que impede crescimento ainda maior dos gastos do Brasil no exterior, o déficit seria muito maior, na casa de 6% do PIB. 

    Com a redução da oferta para rolagem dos swaps, o BC parece inclinado a diminuir esta distorção na economia associada ao câmbio, ainda que pagando o preço de juros mais altos no curto prazo. 

    Dólar dispara mais de 2%, a R$ 3,081 

    O dólar subiu mais de 2% ante o real nesta segunda-feira, após o Banco CENTRAL (BC) brasileiro sinalizar que deve rolar apenas parcialmente os swaps cambiais que vencem em junho,mesmo diante da forte alta da moeda americana nas três sessões passadas.De acordo com operadores, máximas foram renovadas no período da tarde, mesmo com a divulgação de números da balança comercial de abril melhores do que o esperado. 

    No encerramento dos negócios, o dólar cravou 2,26% de valorização, cotado a R$ 3,080 para compra e a R$ 3,081 para venda. 

    No maior patamar da sessão, a divisa dos EUA atingiu R$ 3,094 (+2,79%), pouco depois das 15 horas. A mínima, perto das 10h30, foi de R$ 3,059 (+1,63%). No ano, até ontem, o dólar acumula valorização de 15,87% frente ao real. 

    Na quinta-feira,o dólar marcou a maior alta diária ante o real em mais de um mês e, após o fechamento dos negócios, o BC anunciou que faria na manhã de ontem leilão de rolagem de swaps cambiais com oferta de até 8,1 mil contratos. Se mantiver esse ritmo de oferta diária até o penúltimo pregão do mês, como de praxe, rolará cerca de 80% do lote total, equivalente a US$ 9,656 bilhões. “Se o BC não faz questão de coibir essa alta do dólar, o mercado aproveita e puxa a cotação”, argumentou o operador de câmbio da corretora Intercam, Glauber Romano. 

    Cena externa No exterior, o dólar ganhou força após a divulgação do Índice dos Gerentes de Compra (PMI, na sigla em inglês) Industrial da China, apurado pelo HSBC, que recuou de 49,6 pontos em março para 48,9 pontos em abril, se distanciando ainda mais da marca de 50 pontos, que marca o limite entre contração e avanço da atividade. Além disso, analistas estão cautelosos com a agenda da semana, que tem como destaque a divulgação do relatório de emprego nos EUA na sexta-feira. 

    A perspectiva de que a recuperação da economia dos Estados Unidos abre espaço para uma alta de juros em breve também vem pressionando o câmbio globalmente. 

    Na sexta-feira, com o mercado brasileiro fechado devido ao feriado do Dia do Trabalho, uma leva de dados positivos sobre a maior economia do mundo reforçou essas apostas e levou a moeda americana à máxima em duas semanas contra o iene.

    Segundo operadores, no Brasil, também forneceu suporte ao dólar o ceticismo do mercado sobre a aprovação das medidas fiscais no Congresso, após novos sinais de atritos entre o presidente da Câmara Eduardo Cunha (PMDB-RJ), e do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), e de alterações feitas aos projetos originais idealizados pela Fazenda durante as negociações no Legislativo.

    Com isso, o mercado ignorou dados positivos da balança. Segundo o Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior (MDIC), em abril houve superávit de US$ 491 milhões, acima do teto das expectativas, que apontavam desde um déficit comercial de US$ 300 milhões a um superávit de US$ 253 milhões, com mediana positiva de US$ 50 milhões. (Com agências).

     

    Fonte: Jornal do Commercio RJ

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