Alex Ribeiro De Brasília
Nas primeiras trocas de cargo no Banco CENTRAL no segundo mandato da presidente Dilma Rousseff, o conservador Carlos Hamilton de Araújo deixará a diretoria de Política Econômica, responsável pelos modelos de projeção do regime de meta de inflação. Para seu lugar, foi indicado seu colega Luiz Awazu Pereira de Silva, hoje responsável pela áreas internacional e de regulação, que tem um histórico de votações dissidentes mais moderadas nas reuniões do Comitê de política monetária (Copom).
As áreas hoje comandadas por Awazu serão assumidas por dois novos diretores, com assento no Copom. O economista Tony Volpon, chefe de pesquisas para mercados emergentes da Nomura Securities, baseado em Nova York, assumirá a área internacional, no primeiro nome do mercado financeiro privado a assumir um cargo no Banco CENTRAL no governo Dilma Rousseff. Otávio Ribeiro Damaso, funcionário de carreira do BC, com experiência no governo e especialização em temas microeconômicos, cuidará da área de regulação.
O Valor apurou que Carlos Hamilton já vinha pedindo para deixar o BC há algum tempo para trabalhar na iniciativa privada, depois de ter se tornado o mais longevo diretor de Política Econômica do BC, com cinco anos no cargo.
Em fins de 2014, no auge da campanha eleitoral, ele fez a defesa da autonomia legal do Banco CENTRAL, num período em que a campanha de Dilma veiculava propaganda dizendo que a ideia de independência defendida pela adversária Marina Silva (PSB) significava entregar o órgão a banqueiros.
O substituto de Carlos Hamilton, Luiz Awazu, é um Ph.D. em economia pela Universidade de Sorbonne que, além da prática nas áreas de regulação e negociações internacionais, dedicou-se à produção de estudos acadêmicos que abusam de econometria em temas do BC – e, segundo avaliação de seus pares na instituição, tem credenciais técnicas para tocar o dia a dia da diretoria de Política Econômica.
Nas reuniões do Copom, ele se alinhou com a ala mais “dovish” nas três vezes em que o comitê votou dividido desde que a instituição passou a divulgar nominalmente os votos de seus membros, a partir de maio de 2012.
Em todas essas vezes, porém, ele deixou claro em seguida que as divergências não eram sobre a necessidade de subir os juros para conter a inflação, mas sim do momento certo para fazê-lo.
Ele tem sido porta-voz de mensagens conservadoras do Copom.
Em meados do ano passado, em entrevista ao Valor, ele reafirmou que o BC não iria baixar os juros, como acreditava boa parte do mercado. Em meados de dezembro, declarou em um evento que “perseverança é simplesmente continuar a fazer o que for necessário para colocar a inflação na meta de 4.5% ao ano”. Awazu chegou a ser cotado em fins do ano passado para assumir a presidência do BC, num cenário em que o titular do cargo, ALEXANDRE TOMBINI, fosse deslocado para a Fazenda.
Depois que TOMBINI foi confirmado no cargo, em fins de novembro, era dada como certa mudanças na diretoria do BC. Nos últimos dois anos, quando o BC executou um ciclo de alta de juros que já acumula cinco pontos percentuais, Carlos Hamilton sempre integrou as especulação sobre possíveis trocas no BC. Havia comentários também sobre a possível saída de membros que são funcionários de carreira do BC e que já têm tempo de trabalho para se aposentar, como Altamir Lopes (Administração), Sidnei Marques (Organização do Sistema Financeiro) e Luiz Feltrim (Relações Institucionais).
Uma fonte ouvida pelo Valor avalia que, nas votações do Copom, a saída de Carlos Hamilton deverá ser contrabalançada pela entrada de Volpon, que por suas origens no mercado financeiro teria naturalmente uma inclinação mais conservadora. Volpon, um colunista do Valor, defendeu em entrevistas a manutenção da meta de inflação em 4,5% e sua redução nos próximos anos.
Damaso, com 43 anos, foi nos últimos anos um auxiliar muito próximo de TOMBINI. Entre 2009 e 2010, trabalhou como seu consultor na diretoria de normas e, quando TOMBINI assumiu a presidência do BC, virou o seu chefe de gabinete.
Antes disso, Damaso fez uma carreira própria como técnico, servindo os governos de FHC e Lula.
Sua experiência em temas financeiros inclui a presidência do Conselho de Administração da Caixa.
Ele é autor de trabalhos acadêmicos sobre microeconomia em parceria com o ex-secretário de Política Econômica do Ministério da Fazenda Marcos Lisboa.
Fonte: Valor Econômico