BC vai na contramão

    Se o Comitê de política monetária (Copom) confirmar hoje a expectativa da maioria do mercado e aumentar a taxa Selic em 0,5 ponto percentual, para 12,25% ao ano, o Brasil será o décimo-primeiro país a alterar juros em janeiro. A alta, contudo, irá na contramão da política adotada pela maior parte das autoridades monetárias, que está cortando o custo dos empréstimos. Ontem, por exemplo, a Turquia promoveu uma redução de 0,5 ponto percentual, após a inflação desacelerar. Somente Mongólia e Bielorrúsia elevaram o preço do dinheiro no primeiro mês do ano.

     

    Banco CENTRAL brasileiro, sob o comando de ALEXANDRE TOMBINI, está encurralado, após ter sido leniente com a inflação. Agora, mesmo com o baixo crescimento da economia, terá de aumentar os juros para controlar a disparada no custo de vida. Entre os analistas está consolidada a aposta de que a carestia, neste início de 2015, deve ultrapassar, em 12 meses, o teto da meta, de 6,5%, e ficar próxima dos 7%. A estimativa leva em conta o fato de o governo estar disposto a recompor os preços administrados, que vinham sendo contidos artificialmente. A decisão de restaurar a Contribuição de Intervenção no Domínio Econômico (Cide) sobre os combustíveis reforçou essa expectativa.

     

    Outro fator que implicará pressões inflacionárias é o encarecimento do dólar. No mercado, as projeções são de que a moeda norte-americana encerre o ano cotada a R$ 2,80. Muitos analistas temem que esse custo ultrapasse os R$ 3 quando os Estados Unidos começarem a elevar os juros.

     

    Nas contas de Antônio Carlos Porto Gonçalves, professor da Escola Brasileira de Economia e Finanças da Fundação Getulio Vargas (FGV), aSelic estaria em 9% ao ano em 2015 se a presidente Dilma Rousseff não tivesse imposto ao Banco CENTRAL, dois anos atrás, a trágica política de redução das taxas de maneira intempestiva. A política de corte de juros adotada naquele momento ocorreu sem que a inflação estivesse controlada.

     

    Para o professor do Instituto de Economia da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) Reinaldo Gonçalves, as fragilidades da economia brasileira, como baixo crescimento e inflação em alta, são fruto de erros cometidos pelo governantes que foram tolerantes com a carestia e deixaram de lado os investimentos. “Tudo o que é feito pelo Executivo afeta as expectativas dos investidores, e não será fácil recuperar o tempo perdido. A alta de juros é um remédio amargo, mas é essencial para conter o problema”, comentou.

     

    Fonte: Correio Braziliense

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