BCs debatem efeito da incerteza no juro

    política monetária Texto discutido na reunião do FMI prega dose maior de realismo ao mercado

     

    Alex Ribeiro De Brasília

     

    Um texto para discussão do presidente do Banco CENTRAL do Canadá, Stephen Poloz, defende o uso do “forward guidance” basicamente nos casos em que os juros estão perto de zero e prega a injeção de um pouco mais de “incerteza e realismo” nas sinalizações sobre os possíveis caminhos da política monetária.

     

    O documento, divulgado na última sexta-feira, foi intensamente discutido entre os banqueiros centrais das principais economias do planeta no encontro de outono do Banco Mundial e Fundo Monetário Internacional (FMI). O presidente do Banco CENTRAL DO BRASILALEXANDRETOMBINI, participou das reuniões, que avançaram no fim de semana, em Washington.

     

    “Acredito que o “forward guidance” deve ser visto como um instrumento útil dentro da caixa de ferramentas dos banqueiros centrais, mas que deve ser reservado sobretudo para a situação do “zero lower bound””, escreveu Poloz O Banco CENTRAL DO BRASIL tem usado uma certa dose de “forward guidance”, que essencialmente significa sinalizar passos futuros de sua estratégia de política monetária.

     

    Desde maio, o Comitê de política monetária (Copom) vem indicando que será necessário manter os juros no nível atual de 11% ao ano por “tempo adequado” para garantir a convergência da inflação, que chegou a 6,7% nos 12 meses encerrados em setembro, para a trajetória do centro da meta, de 4,5%.

     

    Aqui e ali, TOMBINI tem feito referências ao “forward guidance”, como em discurso no seminário de metas de inflação, em maio passado.

     

    “O “forward guidance” pode representar mais uma etapa no processo de aperfeiçoamento da comunicação dos bancos centrais, ao sinalizar com mais clareza a expectativa da trajetória da taxa de política”, disse. Segundo ele, é um instrumento que pode “reduzir a incerteza em relação à função de reação dos bancos centrais”.

     

    Banco do Canadá, fez uso do “forward guidance” em 2009, na época em que era comandado por Mark Carney, quando os juros estavam próximos de zero, situação que os economistas chamam de “zero lower bound”. Nela, os bancos centrais não têm como baixar mais os juros para estimular a economia – por isso, a alternativa de sinalizar a trajetória futura dos juros para manter a política monetária mais relaxada.

     

    Poloz, em seu texto, argumenta que, embora útil quando os juros estão próximos de zero, o “forward guidance” também tem contratempos.

     

    Por exemplo, ao usar esse instrumento, o Banco CENTRAL leva o mercadoafazerumaapostaunilateral numa determinada trajetória da taxa de juros; quando o Banco centralmudasuaorientação, omercado passaaviverperíodosdemaiorvolatilidade.

     

    Outro problema é que o “forwardguidance”écondicionalao cenário projetado pelo Banco CENTRAL, que nem sempre se confirma.

     

    “O efeito líquido de abrir mão do “forward guidance” é transferir alguma incerteza sobre as decisões [futuras] de política monetária do prato doBanco CENTRAL de volta para o prato do mercado, uma situação mais desejável em tempos normais”, diz o chefe do Banco do Canadá.

     

    No texto, Poloz diz que o mundo pós-crise de 2008 é cheio de incertezas persistentes que não estão sendo capturadas pelos modelos econométricos com que trabalham os bancos centrais. O canadense cita exemplos que se aplicam ao seu país, como a relação entre a desaceleração econômica (tecnicamente, o hiato do produto) e inflação e a reação das exportações ao crescimento mundial.

     

    O que Poloz defende – e diz que essa foi a prática do Banco CENTRAL do Canadá entre fins de 2012 e começo de 2014 – é que banqueiros centrais dividam com os mercados financeiros a sua visão sobre as incerteza no cenário econômico.

     

    “Oferecendo transparência total dos riscos que o Banco CENTRAL está pesando faz o mercado avaliar as novas informações mais ou menos da forma que o Banco CENTRAL avalia”, afirma ele.

     

    O quanto o texto de Poloz se aplica ao caso concreto brasileiro atual certamente será tema de debate entre os especialistas. Muitos deles têm notado que, desde a divulgação do relatório de inflação de setembro, o Banco CENTRAL tem suavizado um pouco seu “forward guidance” e colocado um pouco mais de incerteza sobre a trajetória futura de juros. Ao lado da sinalização da manutenção do juro básico em 11% ao ano, os seus dirigentes passaram a lançar no ar a hipótese de um novo aperto na taxa, caso isso se torne necessário.

     

    “Na nossa mensagem, está explícito o que não está contemplado em decisões futuras do Copom: redução da taxa de juros“, disse o diretor de política econômica, Carlos Hamilton Araújo. “E está implícito o que pode ser contemplado: elevação ou manutenção da taxa Selic.” TOMBINI, em declarações em Washington no sábado, reforçou a mensagem. “Isso não quer dizer de modo algum que o BC será complacente com a inflação. Se preciso for, e no momento certo, caso seja necessário, nós estaremos prontos para agir para combater a inflação no Brasil.” O texto de Poloz, escrito em inglês, está disponível na página do Banco do Canadá na internet, sob o título “Integrating Uncertainty and Monetary Policy-Making: A Practitioner”s Perspective” (numa tradução livre, Integrando Incerteza e Formulação de política monetária: a Perspectiva de Quem Faz na Prática).

     

     

    Fonte: Valor Econômico

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