Brasil desembolsa com juros quase o que gasta com Educação e Saúde

    Pedro do Coutto

    No balanço publicado no Diário Oficial, edição de 30 de agosto, sobre a execução orçamentária nos primeiros oito meses do ano e previsão feita para todo exercício de 2013, a Secretaria do Tesouro Nacional revela que as despesas com o pagamento de juros pela rolagem da dívida interna vão atingir, em dezembro, o total de 187 bilhões de reais. Paralelamente, os gastos com Educação e Saúde vão alcançar o montante de 195,3 bilhões: 98,7 bilhões para a saúde, 96,6 para a Educação. O balanço está assinado pelo subsecretário do Tesouro, Gilvan da Silva Dantas.

    As despesas com o pagamento de juros (atualmente na escala de 9% a/a) revelam que a dívida interna, portanto, está ultrapassando a casa dos 2 trilhões de reais. É só fazer as contas. O endividamento, que não inclui os compromissos externos, está crescendo acentuadamente. Há cerca de dois anos atingia 1 trilhão e 500 bilhões. O crescimento da dívida está avançando mais do que as despesas com Saúde e Educação, setores essenciais à existência humana e ao desempenho social do próprio país. Isso de um lado. De outro, mostra que o montante da dívida está se aproximando do total do orçamento federal, fixado em 2,2 trilhões de reais para este ano. Não confundir com o Produto Interno Bruto, projetado, como O Globo revelou na edição de 22 de setembro, reportagem de Luciana Carneiro, em 2,2 trilhões de dólares, portanto algo em torno de 4,6 trilhões de reais.

    O desembolso com o pagamento dos juros (em nível superior ao da inflação apurada pelo IBGE) aproxima-se também dos gastos com o funcionalismo civil e militar da União, orçados em 206 bilhões, incluindo aposentados, reformados e pensionistas. Os encargos com o pagamento de juros destinam-se aos Bancos, especialmente Itaú, Bradesco e Banco do Brasil, contribuindo assim para uma maior concentração de renda no país, uma vez que, na realidade, os Bancos não são devedores da taxa Selic de 9%, são credores. Ilusão pensar o contrário. Utilizando inclusive, por fontes de divulgação do governo. Uma contradição.
    É por essas e outras, como demonstrou Luciana Carneiro naquela edição de O Globo, que se consolida o processo de concentração de renda em nosso país. Basta considerar, como foi publicado que, apesar de ser a sétima economia do mundo em matéria de PIB, ocupamos o 51º lugar no que se refere à renda per capita; PIB dividido pelo número de habitantes. A renda per capita brasileira, por ano, é de 11,3 mil dólares. Abaixo da per capita da Argentina que é de 11,5 mil dólares.

    ATRASO SOCIAL
    E nosso atraso social, decorrente da concentração de renda, está fortemente refletido na colocação em matéria de qualidade de vida: estamos no 85º lugar. Nosso Índice de Desenvolvimento Humano é muito baixo, nos encontramos bem aquém da média mundial. Em compensação, para pior, somos o 11º país em matéria de pagamento de impostos. Nossa carga tributária alcança 36% dos rendimentos do trabalho humano.

    O fato é que, mantida a atual política de juros, não só a taxa Selic, mas as taxas cobradas pelos Bancos e Cartões de Crédito, a renda vai se concentrar cada vez mais. Basta lembrar que, nos créditos pessoais a rede bancária cobra 2,5% ao mês para uma inflação anual de 6%. E que os cartões de crédito, no refinanciamento de débitos, cobram de 7 a 8%, ao mês. A população vai se endividando cada vez mais e, cada vez menos, pode sair do sistema que, aparentemente, lhe oferece  vantagens. Mas, na verdade, a aprisiona.  A propaganda é sempre sedutora. Na hora de pagar é que são elas, como se diz por aí.

     

    Fonte: Tribuna da Internet

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