Por Assis Moreira | De Sydney
O Brasil veio preparado para contestar no G-20 os relatórios do Fed (o BC dos EUA) e do Fundo Monetário Internacional (FMI) que põem o país entre os mais afetados pela volatilidade nos emergentes.
A questão é se fará isso, já que vários emergentes pareciam não ter dado a mesma atenção aos dois relatórios que incomodaram o governo brasileiro. Negociadores consideram, porém, que de “maneira construtiva” pode-se deixar claro que relatórios com estardalhaço podem alimentar a ideia de que agora é a crise de emergentes. E isso é visto por autoridades como não só errado como contraproducentes, até para os países desenvolvidos, pelos riscos de contágio.
Esses países sinalizam que não negam a existência de problemas e que estão conscientes de que precisa continuar tomando medidas para ajustar as economias, diz uma fonte. Mas a avaliação é que tampouco a transição para a normalidade na política monetária dos países ricos justifica catastrofismo em relação aos emergentes. Para setores de Brasília, o processo de reprecificação dos ativos não tem a ver com vulnerabilidade e sim com uma simplificação abusiva de colocar todo mundo no mesmo saco.
Certos representantes reiteram a diferenciação atual dos emergentes em relação ao passado, com câmbio flutuante, reservas importantes e dívida menor. Em Sydney, fala-se também mais de diferenciação entre os próprios emergentes, que o mercado começa a fazer.
Entre os emergentes com déficits em conta corrente relativamente altos, Turquia e África do Sul sofreram desvalorização das moedas bem mais fortes em relação ao ano passado, enquanto Brasil, Índia e Indonésia tiveram depreciação menor desta vez.
O sentimento é de no G-20 vários países estão mais sensíveis ao que o Brasil e outros emergentes vêm dizendo, como que a transição tem que ser feita com cuidado e que não será um processo linear.
Negociadores não veem muito sentido numa ação no mercado por governos de emergentes. Consideram natural a ação de gestores de portfólio vendendo ativos nos emergentes para comprar nos EUA. É o negócio deles, diz uma fonte. O que consideram exagerado é “forçar a barra” na desvalorização dos emergentes, criar um problema, que para certas autoridades não se justifica, para depois comprar na baixa.
Fonte: Valor Econômico