Brasil será o pior dos emergentes em 2014

    FMI diminui para 2,5% a expectativa de crescimento do país no próximo ano, quando Dilma disputará o segundo mandato presidencial

    SIMONE KAFRUNI
    DIEGO AMORIM

    O Fundo Monetário Internacional (FMI) traçou um quadro nada animador para o mundo neste e no próximo ano, sendo que, para o Brasil, as perspectivas são ainda piores. Pelas projeções da instituição, o país avançará 2,5% em 2014, quando a presidente Dilma Rousseff tentará a reeleição, e a economia será tema dominante nos debates. Em abril, a expectativa do organismo multilateral para o Brasil era de salto de 4% no próximo ano. Ou seja, desde então, houve um corte de 1,5 ponto percentual na previsão, o maior tombo entre todas as nações analisadas.

    Em junho, quando fez a primeira revisão para os números, o FMI ainda estava mais otimista e acreditava que a economia brasileira daria um salto de 3,2% em 2014. Mas, diante da forte desaceleração da atividade no país, teve de se render à realidade. Para 2013, o Fundo manteve a aposta de incremento para o Produto Interno Bruto (PIB) de 2,5%. Tanto neste ano quanto em 2014, o Brasil ficará, mais uma vez, na rabeira do crescimento entre os emergentes, que devem se expandir, em média, 5%. Também ficará abaixo da média global, que, mesmo revisada para baixo, ficará em 2,9% neste ano e em 3,6% em 2014.

    Apesar do ritmo mais fraco da atividade no Brasil, o economista-chefe do FMI, Olivier Blanchard, avisou que o Banco Central terá de manter ativa a política de aumento da taxa básica de juros (Selic), que, hoje, deve passar de 9% para 9,50% ao ano, com o objetivo claro de pôr a inflação nos eixos (leia mais na página 11). Para ele, Brasil, Índia e Indonésia estão em uma situação bastante frágil ante a decisão do Federal Reserve (Fed), o BC dos Estados Unidos, de retirar os estímulos dados à maior economia do planeta. Esse movimento tenderá a desvalorizar as moedas dos três países e de outros emergentes, pressionando ainda mais a inflação.

    Desaceleração
    No entender do FMI, depois de liderarem o crescimento mundial a partir de 2008, quando houve o estouro da bolha imobiliária norte-americana, os emergentes, agora, ajudarão a segurar o avanço do PIB global. Nem mesmo as principais locomotivas em desenvolvimento escaparão do processo de desaceleração. Entre os Brics, a Índia deverá ter um salto de 3,8% em 2013 e de 5,1% no ano que vem. Na China, a previsão baixou de 7,8% para 7,6% neste ano e de 7,7% para 7,3% em 2014. No caso da Rússia, o PIB avançará 1,5% em 2013 e 3% no ano que vem. O Fundo estima ainda alta para a África do Sul de 2% neste ano e de 2,9% em 2014.

    “O tombo no crescimento do Brasil é preocupante, sobretudo quando olhamos para os dados de abril do FMI. Naquela ocasião, a expectativa do fundo era de um crescimento de 4% em 2014 para o país. Ou seja, o recuo de 1,5 ponto percentual supera o 1,0 ponto perdido pela China, o 1,2 ponto da Índia e o 0,8 ponto da Rússia. Por isso, o pessimismo que paira por aqui”, disse o economista-chefe da Austin Rating, Alex Agostini.

    Segundo o Fundo, o Brasil e emergentes, como a China, a Índia e a África do Sul, perderam fôlego por problemas conjunturais, mas também por fatores estruturais. Essas limitações valem, especialmente, para o Brasil e a Índia, por conta dos gargalos regulatórios e de infraestrutura deficiente. O governo da presidente Dilma Rousseff tenta, há um ano, deslanchar o programa de concessões. Mas os investidores andam desconfiados, devido ao forte intervencionismo do Palácio do Planalto na economia. “Como resultado, pressões externas ganham dimensões maiores nessas economias”, destacou Blanchard.

    Para Alex Agostini, os alertas do FMI são coerentes. “Países como o Brasil, que têm deficits de contas externas elevados e inflação alta, sofrerão mais quando os EUA cortarem os estímulos à economia. Infelizmente, o país não fez as reformas necessárias para enfrentar o fim do excesso de dinheiro que circula pelo mundo”, explicou. Ele destacou que o rombo externo atingiu 3,6% do PIB nos 12 meses terminados em agosto. O FMI projeta um buraco de 3,4% do PIB em 2013 e de 3,2% em 2014.

    Os problemas do Brasil não param por aí. Na opinião do economista da Austin Rating, o aumento dos juros, somado à fraca atividade econômica do país, pode colocar o emprego em risco. “A economia brasileira já está gerando menos postos de trabalho, embora ainda continue abrindo vagas. Quanto maior os juros, menos investimentos em um país que já cresce pouco. Podemos entrar num processo de fechamento de postos de trabalho e alta do desemprego em 2014”, analisou Agostini.

    Para melhorar as perspectiva de expansão do PIB, o FMI destacou a importância de o Brasil remover barreiras ao investimento, mesma tarefa que cabe à Índia. “A capacidade de crescer do Brasil é restrita por falta de produtividade. Por isso, o relatório do FMI mostra a necessidade de reformas estruturais e mais investimentos em infraestrutura”, avaliou o economista-chefe da Opus Investimentos, José Márcio Camargo.

    Para o economista Newton Marques, do Conselho Regional de Economia do Distrito Federal, o relatório do fundo reforça a desconfiança dos empresários com o Brasil. “É muito difícil, em um cenário de crise, vislumbrar oportunidades para investimentos. Não há como esperar nada diferente”, disse. O governo, acrescentou ele, não fez o “dever de casa”, sobretudo em relação ao avanço da infraestrutura. “A situação é preocupante. O país não consegue deslanchar e tem apresentado crescimento sempre abaixo do esperado”, comentou Marques, para quem o aumento da taxa de juros tornará o ritmo da economia ainda mais moderado no próximo ano, como também prevê o FMI.

    Incerteza
    Apesar da redução, o FMI está mais otimista com a economia brasileira do que os analistas consultados pelo BC para o relatório Focus, que apontavam alta de 2,2% para 2014. Também foi a primeira vez em mais de um ano que o FMI manteve a projeção de crescimento do país em 2013. Segundo o fundo, o crescimento do Brasil, na primeira metade do ano, melhorou devido ao “investimento mais forte, incluindo estoques”. No entanto, observou, indicadores — que não foram mencionados explicitamente — apontam para moderação da atividade na segunda metade do ano.

    Para o FMI, “a recente desvalorização do câmbio vai melhorar a competitividade externa e compensar parcialmente o impacto adverso dos aumentos dos rendimentos dos títulos soberanos”. A inflação mais alta, contudo, reduziu a renda real e pode pesar no consumo, enquanto restrições de oferta e incertezas sobre políticas podem continuar a restringir a atividade.

    Ao dizer que alguns países precisam reconstruir a margem de manobra fiscal, o FMI nota que em economias como Brasil, China e Venezuela houve aumento de “riscos contingentes ao orçamento e à dívida pública” decorrentes de elevações substanciais em “atividades quase-fiscais e nos deficits” que reforçam a necessidade de agir para ter mais espaço nas contas públicas. É uma referência, no caso brasileiro, aos empréstimos do Tesouro para os bancos públicos como o BNDES.

     

    Fonte: Correio Braziliense

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