Câmara impõe nova derrota ao governo

    Mesmo com o apelo do vice-presidente Michel Temer a aliados, deputados aprovam reajustes que custarão R$ 2,45 bilhões à União

    Após uma sucessão de derrotas do governo, o plenário da Câmara aprovou na madrugada de hoje uma Proposta de Emenda à Constituição (PEC) que reajusta salários de várias carreiras, provocando impacto de R$ 245 bilhões por ano apenas para a União. A proposta foi aprovada por 445 votos favoráveis, 16 contrários e seis abstenções. Na semana que vem, serão votados os destaques.

    O governo tentou durante todo o dia de ontem, mas não conseguiu unir sua base para novamente adiar a votação. Sem alternativa, rendeu-se ao substitutivo que vincula o teto dos subsídios de advogados públicos, defensores públicos e delegados das Polícias Federal e Civil a 90,25% do que recebem os ministros do Supremo Tribunal Federal. Dessa forma, o salário inicial de um advogado público passa de R$ 17,3 mil para R$ 27,5 mil. A aposta do Planalto é de que governadores e prefeitos pressionem parlamentares de suas bancadas para evitar efeito cascata da PEC em Estados e municípios e que a Justiça diga que o texto é inconstitucional.

    Para aumentar suas chances de ver o texto rejeitado mais adiante, o governo apoiou uma emenda aglutinativa que estendia o reajuste também a auditores da Receita e do Trabalho, peritos da Polícia Federal e defensores públicos. No entanto, a proposta não atingiu os 308 votos necessários para aprovação. Foram 247 votos a favor, 203 contra e 14 abstenções.

    O presidente da Câmara, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), condicionou a votação em segundo turno da PEC 443 à aprovação de outra PEC, a de número 172, que impede o repasse de encargos a entes federados sem a designação da fonte de receita.

    Antes mesmo do início da sessão, o governo já contava sua segunda derrota em dois dias. Na noite anterior, viu o plenário, com ajuda da base, impedir o adiamento da votação da PEC para o fim do mês, manobra que garantiria mais alguns dias para negociação de um texto alternativo.

    Ontem o dia foi de desgastes. Pela manhã, líderes da base foram convocados pelo vice-presidente Michel Temer para uma reunião tensa e com ameaças. Os líderes aliados lavaram roupa suja e avisaram: o governo vai continuar perdendo votações importantes na Câmara como forma de retaliação dos deputados.

    Ministros do governo montaram uma força-tarefa para entrar em campo e barrar o avanço da proposta. O clima entre os aliados, no entanto, ainda era de animosidade. Deputados alegam que o Executivo ainda não cumpriu os compromissos firmados no primeiro semestre, em relação às nomeações de segundo e terceiro escalões e ao corte no valor das emendas individuais. O Planalto alega, no entanto, que os partidos não estão mostrando fidelidade ao governo.

    À noite, a insatisfação foi posta em prática com a declaração de que PTB e PDT, partidos da base aliada, adotariam postura de independência nas votações. Os anúncios surpreenderam e irritaram o líder do governo, José Guimarães (PT-CE). “Esse negócio de independência, eu prefiro rompimento.” / COLABORARAM LISANDRA PARAGUASSU, RAFAEL MORAES MOURA, ERICH DECAT e DAIENE CARDOSO

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    AGU considera equiparação legal

    A PEC 443 teve sua versão original aprovada em parecer da Consultoria-Geral da União. O órgão da Advocacia-Geral da União (AGU) considerou “constitucional” o texto que equipara salários entre membros da própria AGU e do Poder Judiciário. A versão em discussão na Câmara incorporou ainda delegados de polícia, equiparando a remuneração de todas essas categorias à dos ministros do Supremo Tribunal Federal, ao fixar que o teto salarial dessas carreiras será equivalente à 90,25% do subsídio mensal dos ministros da Corte. À reportagem, o ministro do Planejamento, Nelson Barbosa, alegou, porém, que a proposta é “inconstitucional”. / RAFAEL MORAES MOURA, VERA ROSA e ADRIANA FERNANDES<br< div=””>

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