Lucas Hirata e Lucinda Pinto | De São Paulo
A relativa calmaria para os mercados de Câmbio e Juros futuros voltou a ser testada pelo mau humor externo. No entanto, a leitura é que, por ora, a correção é pontual e ainda há amparo vindo da cena doméstica.
Os investidores seguem confiantes na queda da taxa Selic a níveis inferiores a 7% no começo de 2018. A pesquisa Focus, por exemplo, confirma que as condições para a estabilização da taxa em níveis baixos por um período prolongado estão colocadas. A mediana das projeções para o IPCA em 2017 caiu de 3,08% para 2,97%. E para o ano seguinte, foi ajustada de 4,12% para 4,08%.
A nova denúncia contra o presidente Michel Temer tampouco é vista com maior preocupação. A leitura é a de que a denúncia não prosperará na Câmara. Ainda assim, os agentes financeiros evitam apostar que o caminho está livre para retomada da Reforma da Previdência. “Como ainda não voltou a ser discutida de fato, não dá para precificar para um lado ou para outro”, diz Camila Abdelmalack, economista-chefe CM Capital Markets.
No pregão de ontem, na ausência de grandes surpresas positivas, quem tomou a cena foi o exterior.
O dólar fechou as operações no maior nível do mês de setembro, aos R$ 3,1576. A alta da divisa americana foi um pouco mais além: o avanço de 0,96% no dia marcou a variação mais acentuada em cinco semanas. Numa lista de 33 divisas globais, o real ficou na sexta pior colocação entre os desempenhos diários, próximo de pares emergentes como o peso mexicano.
Para o sócio e gestor da Rosenberg Investimentos, Marcos Mollica, o dólar tem ampliado sua correlação com o exterior e, por causa disso, é atualmente o ativo que menos reflete a melhora do humor doméstico – que, para ele, não foi eliminado. “A correlação com o mercado internacional deve ser maior, num momento em que cresce a visão de dólar mais forte no mundo”, afirma. “Talvez o dólar não reflita tão diretamente a melhora do ambiente local por causa desse movimento global”, explica.
O ambiente mais arisco no exterior foi alimentado pelo aumento da participação da extrema-direita no parlamento alemão e a perda de apoio à chanceler Angela Merkel. O alerta na Europa se somou à persistente troca de farpas verbais entre Coreia do Norte e Estados Unidos.
O desempenho do mercado de Juros futuros também refletiu o impacto da pressão externa. O contrato de Depósito Interfinanceiro (DI) para janeiro de 2021 teve seu maior salto em mais de um mês. A taxa fechou a sessão regular em 8,80%, com alta de 0,07 ponto percentual ante o ajuste anterior.
Outro termômetro de risco, a curva de Juros acentuou sua inclinação ontem, indicando o aumento do prêmio exigido pelos investidores para se posicionar em trechos mais longos. A diferença entre os contratos DI para janeiro de 2023 e o DI de janeiro de 2019 subiu para nova máxima histórica, a 2,19 pontos percentuais, acima dos 2,14 pontos do fim do mês passado.
Hoje, o mercado deve ter outro teste de humor com a cena internacional. É a vez de a presidente do Fed (BC americano), Janet Yellen, fazer pronunciamento que pode trazer mais detalhes sobre os futuros passos da política monetário e o plano de redução do balanço patrimonial. Os Juros futuros americanos precificam quase 70% de chance de um aumento da taxa referencial em dezembro, bem acima dos 40% de um mês atrás.
Fonte: Valor Econômico