Por José de Castro e Lucas Hirata | De São Paulo
Investidores ainda têm pela frente a sessão desta segunda-feira antes do encerramento do mês, mas, salvo algum evento extremo, julho será lembrado como um período de firmes ganhos para os mercados domésticos de Câmbio e renda fixa.
O real tem alta de 5,76% em julho, maior ganho entre as principais moedas globais e a maior valorização mensal desde junho do ano passado. O ganho também é o mais intenso para o mês desde 1999, quando houve a mudança do regime cambial.
O dólar começa esta semana em R$ 3,1341, patamar que tanto Morgan Stanley quanto Bank of America Merrill Lynch e Nomura consideram abaixo do valor “justo” atribuído à moeda americana – mais próximo de R$ 3,40. Na renda fixa local, o IMA-Geral, índice calculado pela Anbima e que mede os retornos de uma carteira de Títulos públicos, sobe 2,18% no mês até quinta-feira, ganho mais intenso desde fevereiro (2,26%).
Após o rali de julho, agosto começa com as atenções voltadas para o futuro do presidente Michel Temer – que impacta diretamente a perspectiva para as reformas – e da política monetária.
Na quarta-feira, a Câmara dos Deputados votará denúncia da Procuradoria Geral da República (PGR) contra o presidente Temer. Levando-se em conta a reação positiva do mercado à vitória do governo na Reforma trabalhista, um insucesso de Temer na Câmara – que encaminharia a denúncia ao Supremo Tribunal Federal (STF) – poderia gerar estresse nos ativos pela deterioração da perspectiva para a aprovação de ajustes nas contas públicas.
Antes da votação da denúncia, investidores vão acompanhar amanhã a divulgação da ata da reunião do Comitê de Política Monetária (Copom) da semana passada. Os Juros futuros tiveram forte queda desde a decisão, após o mercado ler o comunicado do Copom como “dovish” (inclinado a mais cortes da Selic). Com os preços embutindo expectativa de que o colegiado do Banco Central (BC) reitere na ata o tom do comunicado, aumenta o risco de correção caso o documento não confirme as sinalizações trazidas pelo comunicado do Copom.
João Pedro Ribeiro, estrategista para a América Latina do Nomura, diz que “se surpreenderia” se o documento trouxesse um tom ainda mais pró-queda dos Juros. “O cenário base já se tornou de [redução de] 100 pontos-base. Difícil pular o ritmo para uma aceleração”, afirma. Após a decisão de política monetária da última quarta-feira, Ribeiro alterou sua estimativa para a Selic e passou a prever taxa nominal de 7,5% ao fim do ciclo, de 8% no cenário anterior.
E mesmo que a denúncia contra o presidente Temer seja barrada pela Câmara nesta semana, é menos provável que o mercado tenha espaço significativo para um novo rali apenas por isso, segundo Vitor Carvalho, sócio-gestor na LAIC-HFM Gestão de Recursos. “A vitória de Temer parece estar bem precificada nos mercados. No DI, com certeza. Na bolsa, deve estar quase tudo”, aponta. Mesmo em caso de vitória, um placar menos favorável ao presidente seria visto como sinal de fragilidade das negociações do governo com o Congresso.
Ao longo dos próximos dias, o noticiário envolvendo integrantes da equipe econômica continuará no radar dos agentes financeiros. No começo da semana passada, os ativos chegaram a sentir a pressão do maior receio em torno da permanência do ministro da Fazenda, Henrique Meirelles, que teria condicionado sua permanência no cargo à manutenção da meta de Déficit primário, de R$ 139 bilhões, para este ano. A tensão diminuiu nos dias seguintes, mas serviu de indicativo do quanto os preços estão sensíveis a esse tema.
Fonte: VALOR ECONÔMICO