Casa em desordem

    O ministro da Fazenda, Joaquim Levy, sinalizou ontem o que pode acontecer se deixar o cargo. “É evidente que, se a casa não estiver em ordem, é impossível crescer, é impossível ter confiança, e a gente vai ver o dólar disparar”, afirmou ele, durante audiência pública na Comissão de Finanças e Tributação da Câmara dos Deputados. Logo após a declaração do ministro ser divulgada pelas agências de notícias, o dólar alcançou o maior patamar em 13 anos, e a bolsa intensificou a queda. 

    Para os analistas, a fala do ministro mostrou a enorme dificuldade que ele tem dentro do governo para executar o ajuste fiscal. Levy reconheceu que o momento é muito difícil. Para ele, é preciso que o governo mostre “maturidade e procure soluções que permitam ao Brasil retomar a rota do crescimento”. Como um bom economista ortodoxo, ele criticou o modelo keynesiano de crescimento – que foca no aumento dos gastos do Estado e é defendido por boa parte do governo e pela presidente Dilma Rousseff. Para o titular da Fazenda, essa receita só funciona em uma “economia fechada e que não tem dívida”. 

    Levy ouviu dos parlamentares duras críticas à proposta do Orçamento de 2016, que foi enviada ao Congresso Nacional prevendo um deficit de R$ 30,5 bilhões. Para muitos deputados, o governo deveria ter feito um corte maior dos gastos. Rodrigo Maia (DEM-RJ) classificou a proposta orçamentária como um “pedido de recuperação judicial”, e afirmou que, ao transferir a responsabilidade do ajuste fiscal para o Congresso, a presidente não entende sua função. “Essa proposta (de corte de despesas) precisa partir do Executivo. Se Dilma insistir que temos que fazer isso, temos que considerar que ela caiu”, disse. 

    Maia chegou a sugerir que a reforma ministerial prometida inclua a extinção do Ministério do Planejamento, já que a função de elaborar o Orçamento e controlar as despesas deveria ser da Fazenda, como ocorre na maioria dos países. Ao ouvir a sugestão, Levy suspirou.

     

    Luxo

    O ministro da Fazenda deixou claro que não concorda com o “luxo” de ter um resultado fiscal negativo. “O Orçamento não pode ser considerado uma licença para a gente viver com deficit”, afirmou Levy, pedindo aos deputados que não derrubem os vetos do governo às medidas que aumentam as despesas. Há 26 vetos presidenciais trancando a pauta do Congresso, que terá sessão especial na manhã de hoje para apreciá-los.

     

    Fonte: Correio Braziliense

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