CNI: economia em 2014 será pior com as eleições

    Expectativa é que mudanças em cargos-chave do governo atrapalhem tomadas de decisões

    Sonia Filgueiras

    A Confederação Nacional da Indústria (CNI) aponta o calendário eleitoral como uma das limitações a um crescimento maior da economia no ano que vem. De acordo como relatório sobre as perspectivas econômicas para 2014, divulgado ontem, o calendário “concede pouca liberdade para correções de rotas mais ousadas”. Para o próximo ano, a CNI prevê expansão de 2,1% do Produto Interno Bruto ( PIB), inferior à estimada para 2013, de 2,4%.

    A avaliação é que a troca de comando em postos- chave do governo, típica das campanhas eleitorais, dificultará a tomada de decisões de mais impacto, uma vez que frequentemente os novos ministros e gestores têm pouco conhecimento, espaço político ou liberdade para agir. Os riscos de deterioração associados às mudanças na política monetária norte-americana e à desaceleração dos investimentos são outros dois fatores citados pela Confederação como possíveis entraves a uma expansão mais vigorosa no próximo ano.

    Para o presidente da CNI, Robson Andrade, uma das principais “correções de rota” necessárias é o reforço do papel do investimento como ferramenta para alavancar a competitividade brasileira. “O Brasil tem uma indústria diversificada, muito mais do que em outros países. Poderíamos estar crescendo de 4% a 5%, mas o país precisa de reformas estruturais que mudem o ambiente de negócios e melhorem sua competitividade”, declarou Andrade.

    De acordo com as projeções, depois de subir 7,1% em 2013, a Formação Bruta de Capital Fixo (que mede o investimento) deverá variar 5% em 2014. Os avanços no programa de concessões na área de infraestrutura, embora positivos no médio prazo, deverão ter “impactos efetivos moderados” no próximo ano, segundo estudo da entidade.

    Os investimentos deverão crescer menos em 2014, por causa do aumento dos juros — a CNI prevê juros nominais médios de 10,48% ao ano — e do baixo nível de confiança dos empresários, projeta a Confederação. “Os setores voltados para o mercado interno são os que se mostram mais confiantes, aqueles que competem externamente têm mais dificuldades”, disse Andrade. Para o ano que vem, por conta de uma taxa de câmbio mais favorável — de R$ 2,45 no fim de 2014 e de R$ 2,35 na média do ano —, a Confederação espera uma melhora no saldo da balança comercial, que passaria de US$ 700 milhões neste ano para US$ 9 bilhões, volume ainda distante dos US$ 19,4 bilhões de 2012.

    A previsão é de que o PIB industrial tenha crescimento “modesto”, de 2% em 2014, pouco acima do 1,4% previsto para 2013. O risco externo vem da reversão da política monetária expansionista dos Estados Unidos, anunciada pelo Federal Reserve, banco central norte-americano, na última quarta-feira. “É preciso que fiquemos atentos a possíveis oscilações no mercado. Há uma tendência a um ambiente internacional menos favorável”, declarou o gerente de Política Econômica da CNI, Flávio Castelo Branco.

    Na avaliação da Confederação, a mudança deverá reduzir a disponibilidade de recursos para financiamento do déficit externo, com a consequente elevação dos juros internacionais. A CNI ressalta que a mudança vem em um contexto de déficit externo elevado no Brasil. A entidade prevê uma redução de 13% no déficit em transações correntes, que deverá cair para 3,3% do PIB, equivalentes a US$ 72,2 bilhões (contra o negativo de US$ 81,3 bilhões previsto para 2013).

    “Ainda assim, será um valor elevado, considerando a possibilidade de redução da liquidez”, diz o relatório. Castelo Branco também citou a inflação entre os “alertas”. A CNI prevê um Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) de 6% ao fim de 2014, acima da previsão de 5,7% para este ano.

    O fim do controle dos preços administrados, o dólar mais alto e a inércia dos preços dos serviços puxarão a inflação para cima. A previsão é que o superávit primário consolidado fique em 1,4% do PIB (R$ 71 bilhões), abaixo da previsão para 2013, de 1,9% (R$ 91 bilhões). O aumento dos gastos deverá vir dos estados e municípios, pressionados pelos custos com pessoal.

     

    Fonte: Brasil Econômico

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