Com moeda própria, banco promove inclusão

    Por Jacílio Saraiva | De São Paulo
    Novas formas de circulação de dinheiro e a inclusão financeira em camadas mais pobres da população também estiveram em debate no Menos30 Fest, festival da Globo sobre atitude empreendedora realizado em São Paulo. “É preciso criar novos modelos de moedas e bancos que não visam somente o lucro, mas o desenvolvimento social”, analisa Joaquim de Melo, fundador do Banco Palmas, no Ceará.

    Considerado o primeiro banco comunitário do país, o Palmas começou a operar em 1998, no Conjunto Palmeiras, bairro da periferia de Fortaleza (CE). Junto com outros moradores, Melo descobriu que todo o dinheiro que circulava no local ia para fora da comunidade, sem render benefícios para a população. Resolveu montar um banco e uma moeda própria.

    O principal serviço oferecido é o Microcrédito, para consumo e produção, com o intuito de dinamizar redes de produtores e compradores. A instituição tem mais de seis mil clientes e realiza empréstimos a partir de R$ 50, com prazo de um ano para pagar. “O banco estimulou a economia local”, diz.

    O bairro cearense ganhou uma marca de roupas, a Palmas Fashion, formada por uma associação de costureiras financiadas pelo banco; e o Palmas Lab, de criação de aplicativos e games. Há dois anos, a instituição, que funciona como uma organização da sociedade civil de interesse público (Oscip) na área de crédito, lançou o e-dinheiro Palmas, versão eletrônica da moeda social. Permite que pagamentos e transações sejam realizados pelo celular, mesmo que o aparelho não seja um smartphone.

    Fernanda Ribeiro, cofundadora da rede de negócios A frobusiness Brasil e da Fintech social Conta Black, primeira conta digital de propriedade de negros no país, diz que os novos movimentos do mercado financeiro precisam oferecer uma bancarização mais inclusiva e humanizada. “De outra forma, estaremos replicando modelos tradicionais.” A Conta Black é focada nas classes C e D. “Sempre que perguntávamos aos empresários do Afrobusiness por que o negócio deles não ia para a frente, a falta de crédito era a principal razão.”

    Além do acesso ao financiamento, o caminho do empreendedorismo passa pela observação de novas oportunidades. “É importante olhar ao redor e perceber pequenos ‘gaps’ que podem render bons negócios”, diz Fernanda.

    Foi o que fez Rodrigo Batista, CEO do Mercado Bitcoin. Depois de trabalhar vários anos no mercado financeiro, está à frente do negócio desde 2013, considerado uma das maiores intermediadoras de compra e venda de moedas digitais do Brasil. “O bitcoin é um experimento social e econômico”, diz o empresário, com 500 mil clientes. A moeda acumula valorização de 1.000% em 12 meses. No Brasil, o preço de um único bitcoin ultrapassou a marca dos R$ 30 mil, no dia 25 de novembro, batendo mais um recorde de preço.

    Diante de debates recentes sobre a legalidade do bitcoin, o Banco Central do Brasil publicou este mês um comunicado sobre os riscos das operações com as moedas digitais. “Não foi identificada, até a presente data, pelos organismos internacionais, a necessidade de regulamentação desses ativos”, diz um trecho do texto. “É como se o BC dissesse que tem um ‘bicho’ estranho na sala, mas por enquanto não vai mexer nele”, compara André Perfeito, economista-chefe da Gradual Investimentos e palestrante convidado do Menos30Fest.

    Fonte: Valor Econômico

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