Com PIB fraco, projeções para balança caem

    Por Rodrigo Pedroso | De São Paulo

    A desaceleração da economia e a perda de mercados de manufaturados no exterior fizeram a Associação de Comércio Exterior do Brasil (AEB) revisar para US$ 635 milhões o saldo positivo esperado para a balança comercial do país em 2014, projeção bem menor que o superávit de US$ 7,2 bilhões estimado no início do ano. Esses foram os mesmos fatores que levaram os analistas consultados pelo boletim Focus, do Banco CENTRAL, a também diminuir nos últimos meses consideravelmente o superávit esperado para o ano.

    Para o segundo semestre, a AEB prevê um esfriamento maior do comércio exterior brasileiro. Na primeira metade do ano, o Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior (Mdic) registrou recuo de 2,6% nas exportações e queda de 3% nas importações ante o mesmo período do ano passado. No ano, a AEB estima que deve haver recuos de 5,8% nos embarques e de 5% nos desembarques.

    No Focus, em janeiro, a mediana das projeções apontava para superávit de US$ 8 bilhões da balança em 2014. As previsões foram recuando mês a mês e hoje sinalizam saldo positivo de US$ 2 bilhões. No mês passado, o Itaú previa US$ 3 bilhões de saldo positivo.

    No último cenário divulgado pelo Banco, os economistas divulgaram que o resultado do ano deve ficar positivo em US$ 1,4 bilhão. A queda de preços das principais commodities exportadoras e o nível ainda alto de importações foram citadas no relatório do Banco como os responsáveis pela queda.

    Para José Augusto de Castro, presidente da AEB, pelo lado das exportações, a redução da venda de produtos manufaturados, principalmente para a Argentina, e a queda nos embarques de plataformas de petróleo – fatores que prejudicaram as vendas totais até junho – vão atuar com mais força no segundo semestre.

    Ano passado, o Brasil exportou contabilmente sete plataformas. Cinco, que renderam ao redor de US$ 5 bilhões às exportações totais, foram registradas na segunda metade do ano. Para este ano, espera-se o embarque de apenas duas plataformas.

    Os principais responsáveis por balancear a queda nas vendas de manufaturados no primeiro semestre foram a antecipação dos embarques de soja e o incremento nas vendas de petróleo, carnes e café. O grupo de itens básicos é o único que deve crescer neste ano, na estimativa da associação (ver gráfico ao lado). Até junho, 80% da safra de soja já havia sido embarcada, mesmo que a um preço abaixo do observado em 2013.

    “No segundo semestre o minério de ferro deve cair em volume exportado e o preço no mercado internacional. O ritmo menor da atividade está com impacto mais os dois lados da balança, como vimos em junho”, diz Castro.

    A diminuição do nível de importação observado e esperado está mais ligada à desaceleração da economia, com efeito maior sobre o nível das compras externas a desaceleração do consumo das famílias, o nível de endividamento, o aumento dos juros e a menor geração de empregos. “Todas as categorias de produtos estão com queda da importação”, afirma. Em junho, o Mdic observou recuos de 3,2% nas exportações e de 3,8% nas importações.

    Para o presidente da AEB, “não será surpresa” se vier um pequeno déficit em vez de superávit. José Augusto de Castro usa o petróleo como exemplo. Em suas contas, ele prevê a exportação de 28 milhões de toneladas de petróleo neste ano, número 40% maior do que no ano passado. “Um milhão de toneladas a menos e já fechamos o ano com saldo negativo”.

     

    Fonte: Valor Econômico

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